domingo, 29 de maio de 2011

Campeã




Minha filha linda, a minha Mel, passou, aos 4 anos de idade, por uma delicada cirurgia, uma cirurgia cardíaca. É que ela nasceu com um problema no coração que foi diagnosticado desde os primeiros dias de vida. Não apresentava sintomas aparentes mas exigia acompanhamento médico periódico, e como ela estava sempre ótima eu acreditava que continuaria a vida sem necessitar qualquer intervenção. Mas aí em uma consulta de rotina a cardiologista disse que uma cirurgia seria necessária. 

Imaginem. A família entrou numa espécie de colapso coletivo. Ao menos eu entrei, em silencioso colapso. Consultamos diversos especialistas na tentativa de uma opinião diferente, médicos de diferentes hospitais, de São Paulo, do Rio. Todos concordaram com o diagnóstico inicial, uma unanimidade. Os médicos diziam ser uma das mais simples e comuns cirurgias cardíacas. Eu tentava e até conseguia em parte compreender a argumentação estatística dos médicos, mas tratava-se da minha filhinha, de apenas 4 anos, e diante disso qualquer tentativa de pensamento racional é impossível.

Ansiedade total, preocupação, escolha de hospital, de médicos, acerto dos detalhes finais, e enfim chegou o dia da cirurgia. Lembro de um momento especial, a entrada da minha filha no centro cirúrgico. Já sentindo os primeiros efeitos do anestésico a Mel começou a rir, a dar gargalhadas mesmo. Ela nos olhava e ria. Foi embora nos braços do enfermeiro dando risadas e adormecendo aos poucos. Essa foi a última visão que tivemos dela antes da cirurgia. Ela foi e nós ficamos. Ela sorrindo, nós chorando. Deixamos o amor de nossas vidas nas mãos daquelas pessoas, médicos, enfermeiras. Nas mãos de Deus.

A espera foi muito difícil, cerca de sete horas de cirurgia, longas horas, emoção profunda, peitos abertos, de todos nós. No fim deu tudo certo, a cirurgia foi um sucesso, mas não sem muita luta. Luta intensa da guerreira menina.

Minha filha e os atletas tem algo em comum. Vemos nos jogos olímpicos os competidores e seus dificílimos desafios, treinamentos sem fim, dedicação, esforço, sofrimento, dificuldades várias. Mas ao alcançar êxito na competição máxima a emoção, o choro, a festa, e a recompensa. A vitória, representada pela medalha colocada no peito. A medalha é a prova da vitória, exposta com orgulho no peito do atleta.

Naqueles dias que agora recordo, quando minha filhinha passou pela cirurgia, aconteceu também assim, como nas Olimpíadas. Na competição de minha filha teve de tudo, superação, esforço, ansiedade, lágrimas, e muita torcida.

Há vencedores que apresentam suas medalhas de uma forma toda especial, é o caso de minha filha. Até hoje ela leva no peito a prova da sua luta, uma suave linha, tênue marca, quase não se nota, mas está lá, no peito da minha atleta. Esta cicatriz é a sua medalha. Sim, pois minha filha venceu, chegou em primeiro lugar, ela foi campeã. Já se foram quase dez anos e graças à cirurgia minha linda está curada, totalmente saudável. E sabe quem colocou esta linda medalha no peito da minha Mel? Foi Deus.

Seres iluminados, todos, todas as pessoas que nos atenderam e que cuidaram da minha Mel. Médicos, enfermeiros, cirurgiões, demais profissionais, pessoas do bem, especiais, abençoadas.

Outro dia aconteceu algo interessante. Na ocasião da cirurgia da Mel diversas pessoas, amigos, familiares, que foram visitá-la no hospital, deixaram recados para ela em pequenos bilhetes, inclusive eu deixei um. Eu nem lembrava bem do texto deste bilhete que eu deixei, e aí há pouco tempo eu encontrei este recado.

“Querida Mel.
Eu realmente não esperava que com apenas

4 anos você pudesse me ensinar tanto !
Eu te amo, e lhe desejo tudo de bom, saúde,

e uma vida longa e doce como você.
Papai.”


Menina, guerreira, atleta, pequenina, gigante, vencedora, campeã.
Minha Mel, o grande amor da minha vida.
Tenho muito orgulho de ser o pai dela.