Foto: Mario Marinho |
Levantei o olhar, algum movimento me chamara a atenção. Havia um rapaz do lado de fora, no estacionamento em frente. Conversava com uma pessoa que passava. Percebi algo estranho no olhar do rapaz. Ele deu um passo adiante e pude ver um copo em sua mão. Cerveja.
Continuei em minha leitura, ao menos tentei.
Imaginei inicialmente que seria alguém voltando da "balada". Quando vou aos domingos na padaria, bem cedo, é comum encontrar adolescentes voltando das noitadas, por vezes bebendo. Mas não parecia ser o caso daquele rapaz, as roupas, a idade, uns trinta e cinco ou mais, não combinavam muito bem. Também não aparentava ser uma dessas pessoas viciadas em álcool que parecem passar mais tempo nos bares que em suas casas.
Olhei novamente, ele caminhava meio tonto, e falava muito. Nove horas da manhã e o rapaz bêbado.
Voltei ao livro e ao meu café.
Logo o rapaz entrou na padaria, pediu outra cerveja, e começou a conversar com alguns funcionários. Não consigo nem descrever direito o que ele falava, palavras desconexas, sem lógica. Olhar vago. Independentemente de sua atitude inconveniente ele era tratado pelos funcionários da padaria de forma cordial, parecia ser um cliente conhecido.
Depois fiquei sabendo que aquele era um cliente antigo, uma pessoa querida por todos, e o motivo daquela situação era que o rapaz havia acabado de se separar da mulher, e há dois dias estava por ali, bebendo.
Terminei o café, fui saindo e, no momento em que pagava comentei com o atendente do caixa se aquele rapaz não teria um familiar ou um amigo que pudesse levá-lo para a casa dele.
O atendente comentou: "Pois é, tem cara que é assim, fica ligado numa mesma mulher a vida toda, aí quando se separa fica desse jeito, perdido. É por isso que eu tenho várias, ontem mesmo saí com duas".
Fiquei me perguntando quem estaria mais perdido.