domingo, 6 de novembro de 2011

Perdido


Foto: Mario Marinho


Estava tomando café na padaria próxima de minha casa, domingo de manhã, lendo um livro, uma das coisas que eu mais gosto de fazer.
Levantei o olhar, algum movimento me chamara a atenção. Havia um rapaz do lado de fora, no estacionamento em frente. Conversava com uma pessoa que passava. Percebi algo estranho no olhar do rapaz. Ele deu um passo adiante e pude ver um copo em sua mão. Cerveja.
Continuei em minha leitura, ao menos tentei.
Imaginei inicialmente que seria alguém voltando da "balada". Quando vou aos domingos na padaria, bem cedo, é comum encontrar adolescentes voltando das noitadas, por vezes bebendo. Mas não parecia ser o caso daquele rapaz, as roupas, a idade, uns trinta e cinco ou mais, não combinavam muito bem. Também não aparentava ser uma dessas pessoas viciadas em álcool que parecem passar mais tempo nos bares que em suas casas.
Olhei novamente, ele caminhava meio tonto, e falava muito. Nove horas da manhã e o rapaz bêbado.
Voltei ao livro e ao meu café.
Logo o rapaz entrou na padaria, pediu outra cerveja, e começou a conversar com alguns funcionários. Não consigo nem descrever direito o que ele falava, palavras desconexas, sem lógica. Olhar vago. Independentemente de sua atitude inconveniente ele era tratado pelos funcionários da padaria de forma cordial, parecia ser um cliente conhecido.
Depois fiquei sabendo que aquele era um cliente antigo, uma pessoa querida por todos, e o motivo daquela situação era que o rapaz havia acabado de se separar da mulher, e há dois dias estava por ali, bebendo.
Terminei o café, fui saindo e, no momento em que pagava comentei com o atendente do caixa se aquele rapaz não teria um familiar ou um amigo que pudesse levá-lo para a casa dele.
O atendente comentou: "Pois é, tem cara que é assim, fica ligado numa mesma mulher a vida toda, aí quando se separa fica desse jeito, perdido. É por isso que eu tenho várias, ontem mesmo saí com duas".
Fiquei me perguntando quem estaria mais perdido.



5 comentários:

silkyway disse...

Refletindo, Waldir...Que bom que há pessoas que pensam como você e nos dão a oportunidade de constatar o fato... E sua crônica/conto(?) nos deixa intrigados desde o começo...construindo o mistério e depois revelando as diversas faces da vida de maneira surpreendente! Excelente!!

Anônimo disse...

O seu cotidiano espelha a sua observação sobre este recorte da sociedade que te rodeia e na qual você tem seu foco sócio-cultural. Mantém a sua temática e a saboreia muito bem. Continue a investir nela. Parabéns!
Maria Lucia.

Kelly Simões disse...

Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte.
Até no riso terá dor o coração; e o fim da alegria é tristeza.
Provérbios 14:12-13

Vítor Thomaz disse...

Mesmo perdido diante da situação você encontrou belas palavras para descrever seu cotidiano de uma forma reflexiva provocando crescimento naqueles que passam por aqui!

Espero sua visita ainda esse ano!

Abraço grande !

Seu amigo

Vítor

CELA FESTAS disse...

As pessoas estão perdidas...O mundo está perdido...Sendo sincera, os dois estão certos..em se ponto de vista, a bebida não vai curar a dor, e 2 mulheres não vai curar carência...Mas a vida estressada e globalizada fez o ser humano mudar...Uma frase correta..." A mulher da balada de hoje que fica com vários,geralmente é a ex-garotinha simples de outra cara, que sofreu tanto que resolveu mudar...Como esse cara bêbado...Cada um com sua reação...Amei seu texto..