segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O menino da AACD


Foto: Melissa Marinho


Neste dia foi diferente, o ambiente que normalmente era apinhado de pessoas estava vazio. Ainda assim sentei à mesa para desfrutar meu café, como de hábito, observando o local em silêncio. Estava no saguão de entrada, na cafeteria que fica junto à recepção da AACD do Ibirapuera, São Paulo. Somente a atendente que servira o meu café me fazia companhia.

Vocês certamente conhecem a AACD, uma instituição filantrópica de apoio a crianças deficientes, muito tradicional, ativa e séria, presente em diversos estados. Para conhecer mais basta usar o link: www.aacd.org.br

Tenho um cliente na cidade de São Paulo, um hospital, que fica ao lado de uma das sedes da AACD, esta no Ibirapuera. Lá nesta sede tem um estacionamento rotativo aberto ao público, e sempre que vou visitar este hospital que citei eu deixo o carro no estacionamento da AACD. Comecei a usar o estacionamento deles, há anos, porque era a única opção para deixar o meu carro no local, uma região muito movimentada e sem outras opções. Hoje faço isso por outros motivos. Acredito que a arrecadação com aquele estacionamento deve ser importante para eles, e lá também há uma loja com diversos produtos da AACD, chaveiros, camisetas, que por vezes compro para ajudar. 

Mas há um outro motivo importante para eu sempre passar por lá. Quando eu retorno da visita ao cliente, antes de pegar meu carro, costumo tomar um café na cafeteria junto à recepção e ao fazer isso fico sentado, por alguns minutos, olhando para aquelas pessoas. Um ir e vir muito grande, crianças com necessidades especiais, suas mães e irmãos as acompanhando, trabalhadores, voluntários, muita gente. Gosto de fazer isso, propositadamente, para repensar minha vida, para pôr os pés no chão e lembrar que eu tenho que agradecer muito a Deus. Naqueles instantes, enquanto tomo meu café, eu vejo com clareza que meus problemas são mínimos. Diante da realidade daquelas pessoas tenho até vergonha dos meus problemas, supostos problemas, assim me parecem enquanto permaneço ali naquele local.

Naquele dia em especial foi interessante, eu quase esquecera de tomar o café como sempre faço e já estava indo pegar meu carro, quando lembrei. Eu não estava num dia muito bom, meio sem paciência, um tanto triste, quase desisti da idéia de tomar o café mas... a cobrança interna por aquele meu compromisso íntimo falou mais alto, a consciência pesou, e voltei. Mas por algum motivo, talvez pelo horário já no fim da tarde, não havia ninguém, a recepção da AACD estava vazia. De qualquer forma pedi meu café e fui tomá-lo sentado a uma das mesas do local. Fiquei ali por uns instantes, achando que iria embora sem ter contato com mais ninguém.

Mas aí em dado momento um dos elevadores próximos chegou ao térreo, a porta abriu, e saiu um menino, uma das crianças atendidas. Saiu correndo do elevador, apressado, em sua cadeira de rodas.

Enquanto o menino rumava rápido em direção ao balcão da cafeteria para escolher seu lanche uma coisa me chamou muito a atenção. Não, não foi o fato de ele usar uma cadeira de rodas, não foi a sua situação. Também não foi pena o que senti ao ver o menino, não foi compaixão. O que mais chamou a atenção naquele menino foi o seu sorriso. Ele, em sua cadeira de rodas, com lá seus 12 anos, e um sorriso lindo, contagiante.

Fiquei de início um pouco envergonhado, sim, ao ver aquela criança com tamanha alegria de viver e eu acabrunhado no meu canto. Mas aos poucos fui ficando feliz também, por ele, com ele. Aquela situação me tocou, observei a alegria de viver daquele menino, uma alegria muito intensa, ele nem parecia ter problemas. O menino e sua mãe pegaram o lanche e saíram pelo corredor, sumindo de vista.

E eu fiquei, sentindo uma grande gratidão porque aquele menino, que talvez nem me tenha notado ali sentado, mas que com seu sorriso, com sua alegria, transformou o meu dia.