domingo, 12 de outubro de 2014

O prêmio da tia Wanda


Foto: Waldir C. Marinho

Observava as imagens que passavam, ruas, carros, casas, pessoas. Pequenino, quase não conseguia alcançar a janela de trás do Passat branco. Seria mesmo um Passat branco? Já não tenho tanta certeza. Meu pai teve vários automóveis por estes anos todos, mas naquela época creio que o Passat era o preferido, e se não era branco, era bege. Todos os domingos, final da manhã, sempre o mesmo trajeto. Na época não havia ainda o Metrô naquela região da cidade, então da Av. Monsenhor Félix meu pai entrava direto na Automóvel Clube, onde hoje fica a estação, e após percorrer um trecho conseguia virar à esquerda, lá na frente, entrando na Rua Coronel Vieira pela parte de trás. Como a Coronel era mão única somente podíamos chegar ao nosso destino dando esta volta, lá por perto do Juramento. 

Lembro bem daquela curva fechada que meu pai fazia com seu Passat, saindo da Automóvel Clube e entrando na Coronel, devagar e, durante a curva, ao olhar pela janela à direita, eu podia ver duas torres de uma fábrica. Bem, eu achava que era uma fábrica. Aquelas torres pareciam dois guindastes, talvez fossem mesmo, cada uma com uma casinha amarela lá em cima. Aquilo instigava minha imaginação. Creio que aquelas casinhas eram as cabines de controle dos guindastes, eu ficava olhando imaginando pessoas lá em cima dentro daquelas casinhas, e tinha vontade de um dia poder subir lá. Essa tal "fábrica" era ao lado de onde ficava uma loja de materiais de construção, Diamantino Lucas, algo assim, quem conheceu o bairro de Irajá há mais de 30 anos atrás sabe do que estou falando. Hoje naquele local há um condomínio residencial, e creio que também há uma Telhanorte. 

Então meu pai continuava o trajeto, percorria a rua Coronel Vieira, cruzava a rua do rio, passava em frente ao Urubú Cheiroso (nome engraçado de um bloco carnavalesco que ainda existe) e depois da metade da rua, já se aproximando mais da esquina onde era o banco Banerj, hoje Itaú, chegávamos ao nosso destino, a casa de meus avós maternos. 

No Passat branco, ou bege, seguíamos eu, meu pai Waldir, minha mãe Vilma, e meus irmãos Sérgio e Mário, rumo à casa de meus avós. Domingo era dia de almoçar lá na casa deles, vó Mercedes e vô Ataualpa. O nome de meu avô dava uma história à parte. Com o nome de origem Asteca, ou Maia, ou Inca, nem sei, meu avô era homônimo de um antigo imperador. Minha avó dizia que ninguém conseguia acertar o nome dele, todas as cartas que chegavam (claro, ainda estávamos longe de usar email, WhatsApp, etc.) vinham com o nome de meu avô escrito errado. Certa vez, dizia minha vó, o erro foi um absurdo, e ela chegou a comentar com o carteiro, com a carta em mãos: - Meu senhor, eu já vi chamarem meu marido de Atalpa, de Ataulpa, de outros nomes, mas de 'atolado' é a primeira vez, rs. 

A casa era daquelas num terreno mais alto que a rua, em que é preciso subir uma escada logo na entrada. Abríamos o portãozinho metálico de cor cinza, subíamos os degraus e, pronto, chegamos!

Tomara que e não esqueça de alguém, mas vamos lá, vou tentar lembrar de todas as pessoas que frequentavam os almoços dominicais lá naquela casa. Além de minha mãe, meu pai e meus irmãos, e meus avós claro, iam também minha tia Vanir e o tio Gilson, que são meus padrinhos, o primo Gilsinho e, nossa, a prima Giselle ainda nem era nascida! Só nasceu bem depois. Também iam a tia Wanda e o tio Zeca, o primo Zé Cláudio e a prima Ana Cláudia, o tio Valmir, que na época era solteiro, o primo Humbertinho ia com frequência, a tia Stela também. Os primos Márcio e Marcelo também apareciam, com a tia Sônia e o Jurandir. A dona Maria, vizinha da minha vó também aparecia por lá, seus filhos, e também outras pessoas, familiares e amigos, quem não foi citado que me perdoe. Era uma molecada grande, todos os primos e amigos juntos, somente a Aninha de menina. Era uma farra.

O tio Valmir, o Sérgio, o Zé Cláudio e o Gilsinho, o Humbertinho também, costumavam jogar bola no quintal da frente, uma área pequena que mal dava para dar alguns passos. O Valmir no meio dos moleques vez em quando dava uns chutões, não perdoava os pequenos, a molecada se defendia como podia. Lembro do meu tio levantando o braço preparando o chute, quando ele fazia isso a turma já sabia, lá vem bomba! Rs.

Meu primo Zé Cláudio, mais velho que eu, juntava os menorzinhos em torno dele e contava histórias. 'Uncótio' era o apelido dele na época, esse era o jeito que a prima Aninha, irmã mais nova dele, chamava o irmão quando era bem pequenininha. O Zé Cláudio, ou Uncótio, contava histórias de personagens infantis que ele mesmo inventava, era muito divertido, eu adorava.

Lá pelo meio da tarde sempre começava o carteado, os adultos, normalmente os tios Gilson e Zeca, meu pai e meu avô, jogavam Buraco em uma mesa no quintal. Alguns dos moleques mais velhos, meu irmão Sérgio, o Zé Cláudio, também arriscavam por vezes jogar entre os adultos. Quando o Humbertinho estava por lá também jogavam Sueca. Ah, agora lembrei, o Seu Domingos, pai do tio Zeca, também ia lá às vezes, e ele adorava jogar Sueca.

À tarde costumávamos, junto à TV da sala, ver o Programa Silvio Santos, lembro que na época o quadro "Qual é a música?" estava no auge. Já no início da noite víamos Os Trapalhões, ríamos muito e  quando começava o Fantástico era hora de ir embora. Por vezes meus pais queriam sair antes de terminar os Trapalhões e então era um tal de "ah, mãe, pai, peraí, espera um pouquinho!".

Minha avó era filha de espanhol mas adorava fazer macarronada. Também era comum em seus almoços dominicais termos frango e carne assada. Lembro bem do momento do almoço. Todos pequeninos, cada qual com seu prato lá naquela área atrás da cozinha, ao redor daquela mesa de madeira, e um ou outro sentado no chão pois não cabia todo mundo. Para estimular a molecada que tinha dificuldade de comer direito a tia Wanda costumava prometer: - Quem comer tudo vai ganhar um prêmio! Nós todos estamos até hoje esperando o tal prêmio da tia Wanda, rs. Outro dia eu encontrei a tia Wanda, e foi muito engraçado. Eu disse a ela que, mesmo agora com mais de quarenta anos, ainda estava esperando meu prêmio, e ela me disse: - Eu ainda não te dei o prêmio não? Rs.

Algumas pessoas citadas, infelizmente, não estão mais fisicamente entre nós. Um certo tempo atrás eu passei em frente à casa, que ainda está por lá, e tirei esta foto que ilustra o texto.

Foi uma época inesquecível. Eu ficaria muito feliz, muito mesmo, que você que me lê, e que porventura tenha alguma lembrança daqueles dias, e talvez até tenha sido citado neste texto, comentasse abaixo, compartilhando suas memórias conosco. Grande abraço.




2 comentários:

Unknown disse...

Grande " Big"! Este seu texto é maravilhoso!!! A sua visão é magnífica! Me relembrou de Uma época de extrema felicidades para mim é toda a nossa família!Qual a imagem de santo, no topo da casa? O de São Sebastião.Retrate mais de sua família, Rio das Ostras é outros.Relate também, se puder, de você. Pois, tenho muitas lembranças de ti, meu primo! Desejo tudo de bom para você e toda a sua família!!!Um grande abraço!!!De seu primo Gilson.

Unknown disse...

Ah! Muito Obrigado de relatar minuciosamente a família Carvalho! Meu querido primo!!!Fique com Deus!