sábado, 31 de outubro de 2015

Desperdício


Foto: Waldir C. Marinho

Do táxi que me levava ao aeroporto após dias de trabalho em outro estado, ansioso pela volta para casa, sexta-feira, final da tarde, enquanto aguardava o semáforo esverdear, olhei para o lado e as vi.

Duas mulheres sentadas à mesa de um bar em uma das esquinas do centro do Rio, acompanhadas de suas respectivas garrafas de cerveja.

Bebiam e riam.

Desperdício.

Há ocasiões em que o mundo, sei lá, me parece às avessas. Eu não bebo álcool e vivo um estranho fato em minha vida. Sofro uma espécie de, digamos, preconceito - será isso? - por não beber. Algumas pessoas me olham como se eu fosse um tipo de cara esquisito que não bebe álcool.

Perguntam: "Como assim você não bebe?"
Eu respondo: Não bebo, só isso.
(Mais uma vez este assunto...)

"Você é evangélico?"
Não, não sou evangélico.
(Seria uma honra ser evangélico, mas não sou)

"Mas então porque não bebe?"
Não bebo por uma convicção pessoal, não tem nada a ver com religião.
(É mais uma questão de bom senso e caráter)

"Ah mas beber é tão bom, bebe um pouquinho"
(Algumas pessoas já até tentaram me empurrar um gole goela abaixo, acreditem)

A quem será que eu poderia processar por este tipo de bullying? Querem me fazer pensar que eu sou errado por não beber álcool. Querem me fazer pensar isso, que sou errado, por ser correto. Há quem prefira mais passar o tempo em bares nas esquinas do que em suas próprias casas. Eu não, eu prefiro minha casa, meu lar, com minha família, é onde fico bem, onde me sinto em paz. Detesto ir a um bar, a qualquer bar, tenho ojeriza a isto.

Uma vez me sugeriram que eu devo ter algum tipo de trauma de infância, algo assim, para eu ter esta conduta. Acredite, um trauma. Esta pessoa que me disse isso, portanto, entende que a única explicação para fazer alguém não beber álcool, como eu não bebo, seria esse alguém ter passado por um fato marcante que o tenha traumatizado. Deus meu, porque será que é tão difícil, para quem bebe, compreender que há pessoas que não bebem, e que eu posso ter minha opinião de que beber é errado?

Enquanto o semáforo não esverdeava as mulheres continuavam a beber, e estes pensamentos povoavam minha mente.

Desperdício.

Desperdício de que? Eu explico.

Desperdício de tempo.
Estas mulheres podiam estar fazendo outra coisa mais produtiva. Certamente não estavam tendo uma conversa lá muito construtiva, normalmente em bares somente se conversa sobre futilidades, e mesmo quando o assunto é mais sério o álcool acaba por banalizar e confundir tudo.

Desperdício mental.
Elas podiam estar utilizando suas massas cinzentas de outra maneira. De forma mais criativa.

Desperdício de valor.
Acho que pessoas que bebem se desvalorizam. Ao gastar a vida nesta prática sem sentido, isso desvaloriza a pessoa. A bebida vulgariza o homem e a mulher. Acho horrível. Pra mim foi o que aquela cena me transmitiu, mulheres se desvalorizando, ao ficarem assim expostas, na esquina, bebendo daquele jeito.

Desperdício de neurônios.

Desperdício de saúde.

Desperdício de corpo físico.

Desperdício de alma.

Desperdício de vida.

Desperdício, desperdício, desperdício.

Deus nos concedeu nossas vidas certamente para fazermos algo mais importante do que este tipo de entorpecimento mental, moral, causado pelo álcool.

Entendeu?
Não entendeu ainda?
Não entendeu nada?

Ah, sai prá lá, bebum, tenho mais o que fazer.






P.S: Aqui vale uma explicação. Este texto é enfático, creio, especialmente na frase final, e isto é proposital, para demonstrar minha indignação. Mas é algo calculado, não quero mal aos que bebem, conheço vários e me entendo muito bem com estas pessoas. Vejam, o que me incomoda mais é a conduta na bebida de forma exagerada, mas claro há pessoas que bebem de forma contida, socialmente aceitável. Há aqueles que brindam, há os que tem o costume de tomar um ou dois cálices de vinho para acompanhar refeições, não vejo problemas, em geral, na bebida considerada social. O que me incomoda é o sujeito mudar, ter suas percepções e opiniões e palavras e conduta alteradas, influenciado pelo álcool, e, pensando bem, isto é muito relativo, varia de caso a caso. Conheço uma pessoa que após duas latas de cerveja já começa a ficar insuportável, e conheço outra que pode beber bastante que não muda, ao menos aparentemente. E, para aqueles que me conhecem pessoalmente e já me viram beber alguma vez, saibam que nunca bebi muito, sempre fui avesso à cerveja, chopp, nunca cultivei este hábito, mas bebia vez em quando principalmente em festas, mas pouca coisa, isso há anos atrás. Atualmente não bebo nada, há uns cinco anos que não bebo nem um copo de bebida alcoólica, este texto é fruto deste momento portanto.
Mas, saibam, nas vezes em que eu bebi, há muitos anos, mesmo que pouco, eu estava errado, é o que creio agora. 

E espero nunca mais voltar a beber, nem socialmente.
Minha busca é pela consciência, não o contrário.