sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Rubber Soul ou Revolver?


Foto: Waldir C. Marinho

O disco começa com a maravilhosa Drive My Car. Um contrabaixo sensacional, Paul estava inspiradíssimo nesta gravação, queria poder tocar esta música um dia. Rubber Soul é um dos meus favoritos, talvez seja o CD dos Beatles que mais gosto. Preciso ouvir todos novamente e decidir, programão para o fim de semana, rs. Depois vem Norwegian Wood, nossa, linda, linda. You won't see me, os vocais de Norwhere Man, mais beleza. Essa seqüência inicial de Rubber Soul é demais. São tantas canções lindas, parece um disco de sucessos. Por falar em sucessos, Michelle e Girl também estão neste CD, preciso falar mais? Começou agora a tocar What goes on, adoro o Ringo cantando country, muito legal. I'm looking through you, mais esta. Nem estava lembrando, In my life está neste disco, sem comentários. Só aquele piano lá no meio da canção é de chorar, vale o disco. Quem será que tocou aquele piano? Coisa mais linda. Wait, If I need someone, e agora Run for your life, o que dizer? Fico tentando decidir qual o melhor, Rubber Soul ou Revolver, estes dois os discos dos Beatles que mais tenho curtido ultimamente, acho que são os que mais gosto. Qual será o melhor? Difícil imaginar um disco em que Lennon esteja tão bem quanto em Rubber Soul, isso por si só já é grande motivo para votar neste. Se bem que em Revolver tem And your bird can sing, caramba, esta canção me emociona. Deu saudades de John. Há uns 30 anos atrás tentaram calar a voz do nosso querido passarinho, mas ele continua, firme, nos inundando de beleza, até hoje. Ah, agora deu vontade de ouvir And your bird can sing, resolvi colocar Revolver pra tocar. Que lindo, que lindo, esta música me provoca uma sensação difícil de explicar. E há tantas outras. Revolver começa com Taxman e Eleanor Rigby, esta última uma das músicas mais bonitas que já ouvi. Tem mais Ringo cantando em Yellow Submarine, tem mais John em Doctor Robert, tem mais Paul na belíssima For no one, e muito mais. De repente começou Here, there and everywhere e, nossa, tocou fundo. Lembrei que esta é a canção dos Beatles que meu pai mais gosta e... comecei a chorar. Não consegui segurar. O que a música é capaz de fazer com a gente é algo meio inexplicável. Rubber Soul ou Revolver? Creio que ainda prefiro Rubber Soul, mas Revolver acabou de me levar às lágrimas. Acho que deu empate, ao menos hoje empatou. Eu não estava planejando escrever mais nada neste mês, mas sei lá, deu vontade. Deu vontade de compartilhar com vocês o que se passou em meu íntimo voltando do trabalho pra casa, no trânsito de Sampa, ouvindo Beatles, nesta chuvosa sexta-feira de Carnaval.



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Oportunidades



Chegou, enfim, sua vez. Após muito tempo, intermináveis meses numa fila aguardando um transplante de fígado, ele conseguiu alcançar o primeiro lugar da fila e apareceu um doador compatível.
Só quem já teve contato direto com esta realidade pode ter noção da crueldade que é uma fila de transplante. Sofrimento, expectativa, ansiedade, esperança, desespero, amargura, dor, desânimo, fé, todas estas coisas. Meses e meses nesta situação.
Esta é a realidade de um amigo meu.
Mas enfim chegou o momento dele. Sua oportunidade, de cura, de reconstrução, depois de tamanho sofrimento. Pai de família, homem de caráter, pessoa do bem. Conheço poucos tão merecedores como ele, de se curar, de ter uma nova vida.
Preparativos, hospital, internação, pré-operatório, orações, muita esperança. Delicada, e extensa, a cirurgia necessária. Tudo pronto, tudo preparado.
Deus o abençoe.
Mas não ocorreu. A cirurgia, não ocorreu.
Depois de tudo pronto bastava uma palavra, uma afirmativa, bastava um sim. Só faltava que a família da pessoa falecida, que seria a doadora do órgão, concordasse com a doação. Mas não concordou. Aquelas pessoas disseram não.
Não foi um mal entendido, não foi falta de informação, simplesmente a família negou a doação. Faltou um sim. Faltou este detalhe. Faltou amor.
O que pode gerar tamanho egoísmo é algo que foge à minha compreensão. A oportunidade foi negada ao meu amigo, e ele agora voltou à fila de transplante. Isso ocorreu há poucos dias, na última sexta-feira.
Difícil aceitar algo assim, mesmo considerando o momento de grande tristeza pelo qual passa aquela família que acabou de perder um ente querido. Eles tiveram a chance de, diante de tanta tristeza, fazer com que aquele fato fosse também motivador de incrível alegria. A oportunidade de transformar aquela perda num renascer.
Fico imaginando, após este sentimento que me toma conta, certa revolta diante desta atitude dessas pessoas, será que eu tenho o direito de censurar alguém? Não serei eu egoísta também? Creio que todos nós temos que nos reavaliar a cada instante. Acho que todos os dias, de diferentes maneiras, em diferentes situações, temos as nossas oportunidades, de ajudar, de dizer sim. Estaremos aproveitando estas oportunidades? Estaremos dizendo sim?
Pensando nisso começo a ver o caso de meu amigo de forma diferente. Não foi ele que perdeu a oportunidade, até porque, creio em Deus, logo outro doador aparecerá. Não, não foi ele que perdeu. Na verdade ele ofereceu, a oportunidade, para aquelas pessoas. Meu amigo ofertou para a família do possível doador a grande oportunidade de fazer um enorme bem, ajudando de forma definitiva uma outra pessoa, uma outra família. Mas aquelas pessoas recusaram esta oportunidade.
Quanto a mim, tomei uma decisão. Não tenho qualquer informação mais detalhada a respeito do processo de doação de órgãos, é meio vergonhoso ter que admitir isso. Mas estou convicto, a partir de agora serei um doador de órgãos. Acho que é preciso fazer algum tipo de cadastro, fazer uma observação na carteira de identidade, algo assim, para que a pessoa se torne doadora sem depender da decisão de ninguém. Quem souber agradeço por me informar. O que quer que precise ser feito eu farei, podem me cobrar.





quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

É possível

Foto: Waldir C. Marinho

Entrei no corredor e a encontrei. Expressão triste, ela chorava, lágrimas escorriam pelo seu rosto. Procurei no entorno rapidamente, ninguém por perto, somente tínhamos um ao outro. Certamente minha presença a deixou ainda mais inquieta, talvez com medo. O que fazer? O medo também foi meu, reconheço, não fazia idéia de como proceder. A menina continuava a chorar. Mas onde estaria a mãe daquela menina? Ela chorava e me olhava, em sua cadeira de rodas. Eu acabara de entrar naquele corredor, buscando chegar na loja de souvenirs da AACD do Ibirapuera, e me vi nesta situação, com aquela menina, especial, na minha frente, sozinha, chorando sem parar. Ela tinha algum tipo de deficiência mental, e eu nem imaginava a forma adequada de agir. A menina especial e eu, um em frente ao outro, mais ninguém para socorrê-la, para me socorrer, naquele corredor da AACD. Parecíamos os únicos no mundo, ela e eu, quem sabe um teste, vai lá cara, faz alguma coisa! Essa indecisão, essas considerações, duraram mínimo instante. Comecei a falar algumas palavras para ela, meio sem jeito, procurando confortá-la. Tá chorando porque, linda? Você é tão linda, não chora não. Continuei assim, aos poucos ela foi reduzindo o choro. Nossa, estava funcionando! Continuei a falar, e ela logo parou de chorar. Em dado momento começou a esboçar um sorriso, foi quando se aproximou uma mulher, a mãe da menina. Coitada, devia ter ido ao banheiro, quem sabe, imaginem a luta diária dela. A mulher saiu de perto de mim levando a menina, e eu fiquei, pensando, meu Deus é possível. É possível. Podemos fazer algo, que conforta, que ajuda. Há tantos que precisam. Emociono-me ao escrever isso. Não precisamos nem gastar nada, nem usar muito de nosso tempo. Um gesto é suficiente, bastaram algumas palavras. Obrigado Senhor, é possível, basta querer!