segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Oportunidades



Chegou, enfim, sua vez. Após muito tempo, intermináveis meses numa fila aguardando um transplante de fígado, ele conseguiu alcançar o primeiro lugar da fila e apareceu um doador compatível.
Só quem já teve contato direto com esta realidade pode ter noção da crueldade que é uma fila de transplante. Sofrimento, expectativa, ansiedade, esperança, desespero, amargura, dor, desânimo, fé, todas estas coisas. Meses e meses nesta situação.
Esta é a realidade de um amigo meu.
Mas enfim chegou o momento dele. Sua oportunidade, de cura, de reconstrução, depois de tamanho sofrimento. Pai de família, homem de caráter, pessoa do bem. Conheço poucos tão merecedores como ele, de se curar, de ter uma nova vida.
Preparativos, hospital, internação, pré-operatório, orações, muita esperança. Delicada, e extensa, a cirurgia necessária. Tudo pronto, tudo preparado.
Deus o abençoe.
Mas não ocorreu. A cirurgia, não ocorreu.
Depois de tudo pronto bastava uma palavra, uma afirmativa, bastava um sim. Só faltava que a família da pessoa falecida, que seria a doadora do órgão, concordasse com a doação. Mas não concordou. Aquelas pessoas disseram não.
Não foi um mal entendido, não foi falta de informação, simplesmente a família negou a doação. Faltou um sim. Faltou este detalhe. Faltou amor.
O que pode gerar tamanho egoísmo é algo que foge à minha compreensão. A oportunidade foi negada ao meu amigo, e ele agora voltou à fila de transplante. Isso ocorreu há poucos dias, na última sexta-feira.
Difícil aceitar algo assim, mesmo considerando o momento de grande tristeza pelo qual passa aquela família que acabou de perder um ente querido. Eles tiveram a chance de, diante de tanta tristeza, fazer com que aquele fato fosse também motivador de incrível alegria. A oportunidade de transformar aquela perda num renascer.
Fico imaginando, após este sentimento que me toma conta, certa revolta diante desta atitude dessas pessoas, será que eu tenho o direito de censurar alguém? Não serei eu egoísta também? Creio que todos nós temos que nos reavaliar a cada instante. Acho que todos os dias, de diferentes maneiras, em diferentes situações, temos as nossas oportunidades, de ajudar, de dizer sim. Estaremos aproveitando estas oportunidades? Estaremos dizendo sim?
Pensando nisso começo a ver o caso de meu amigo de forma diferente. Não foi ele que perdeu a oportunidade, até porque, creio em Deus, logo outro doador aparecerá. Não, não foi ele que perdeu. Na verdade ele ofereceu, a oportunidade, para aquelas pessoas. Meu amigo ofertou para a família do possível doador a grande oportunidade de fazer um enorme bem, ajudando de forma definitiva uma outra pessoa, uma outra família. Mas aquelas pessoas recusaram esta oportunidade.
Quanto a mim, tomei uma decisão. Não tenho qualquer informação mais detalhada a respeito do processo de doação de órgãos, é meio vergonhoso ter que admitir isso. Mas estou convicto, a partir de agora serei um doador de órgãos. Acho que é preciso fazer algum tipo de cadastro, fazer uma observação na carteira de identidade, algo assim, para que a pessoa se torne doadora sem depender da decisão de ninguém. Quem souber agradeço por me informar. O que quer que precise ser feito eu farei, podem me cobrar.





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