terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Encontrei, a mim


"Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu, caçador de mim


Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim


Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura


Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim"


(Composição: Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão)


No dia a dia, em momentos quando conheci pessoas que consegui ajudar de alguma maneira.
Ao dar uma palavra de conforto, de atenção, apoio, orientação, para pessoas do meu convívio, do meu entorno.
Nestes momentos.
Me encontrei.
Nas poucas vezes, infelizmente poucas, em que fiz trabalho assistencial. Ao entregar um bem para quem precisava muito. Ao afagar uma criança que precisava de carinho, ao ajudá-la, ao olhar em seus olhos e perceber a satisfação, a alegria.
Naqueles olhos.
Ali me achei.
Familiares, amigos, meus pais, meus irmãos.
Pessoas queridas que me ajudam demais, demais.
A viver, me ajudam,
a me encontrar.
Quando te conheci, minha linda.
Agradeço a Deus por isso.
Neste dia, foi uma parte de mim, 
parte importante de mim, 
que achei.
Te conheci, lindinha, 
e me encontrei.
Quando minha filha nasceu e eu a vi pela primeira vez, ouvi seus sons, acompanhei seus passos.
Quando ela me conta suas conquistas.
Sua forma de ver a vida.
Cada vez em que a vejo, quando sinto seu abraço.
Quando ouço sua voz me chamando de paizinho.
Nela, em seu toque, em seu sorriso.
Em seu carinho.
É onde me vejo.
É onde me encontro.
Eis a resposta.
Encontrei, a mim.
Pode parecer, talvez, óbvio para vocês. Talvez até eu já tenha lido isso em algum lugar.
Mas agora percebo.
Procuro a mim.
Estou no outro.
Nas outras pessoas.
É onde estou.
Estava no trânsito, ouvindo esta música linda, Caçador de Mim, e me vieram estas palavras, estas respostas.
A dor da perda, pessoas amadas que desaparecem, dói tanto.
São pedaços de nós,
que se vão.
Temporariamente, acredito.
Mas ainda assim se vão.
Mas o sentimento que me alcança, agora mesmo, é bom, muito bom.
Tantas pessoas queridas em minha vida.
Mais uma vez esta sensação, de gratidão, a Deus.
Tanto amor que parece não me caber no peito.



 

domingo, 16 de janeiro de 2011

Urgência


aproximaria
os corpos
os nossos
afundaria
impetuoso
seu mar

vibraria
em seu íntimo
no ritmo
saboroso
do seu pulsar

tangenciaria-lhe
as curvas
roçaria-lhe
a nuca

os seios
desejados
como nunca
arrancaria-lhe

miados
anseios
súplicas

arrepiaria-lhe
em toques

apertos
fortes
montaria-lhe
a galope
cavalgaria-lhe
a
 anca
a fio
potranca
fêmea
no cio

faria-lhe
única
úmida
provocaria-lhe
tremores
misturaria-nos
mucos
lamberia-lhe
as frestas
e nestas
degustaria
sabores
odores
sucos

estivesse
ao alcance
num lance
faria-lhe
minha
rainha
a ti me entregaria
em seu poder

mataria
a carência
saciaria

a enorme
urgência
de você


domingo, 9 de janeiro de 2011

Folia



Foto: Waldir C. Marinho


Se a sanfona chora eu canto
Canto de coração
Quando a folia passa
Puxando a multidão
Mão de pegar enxada
Dura como uma pedra
Quando pega na sanfona é rosa amarela
Voz que com gado berra
Já criou calo na goela
Quando vem cantar folia
Vai pintando uma aquarela
Quando vem cantar folia
Vai pintando uma aquarela

( Trecho de “Folia”, grupo Boca Livre, composta por Lourenço Baeta e Xico Chaves )

Esta é uma canção muito especial para mim. Fala da Folia de Reis, tradição folclórica de origem religiosa que acontece em pequenas cidades de alguns estados brasileiros. São grupos musicais nos quais pessoas fantasiadas saem pelas ruas e praças, visitam as casas dos vilarejos fazendo festa, recitando poemas em improvisos, tocando músicas, dançando, etc. Estas folias acontecem no período de festas, próximo ao Natal e o Dia de Reis, e normalmente são realizadas por pessoas comuns de regiões rurais. Pessoas que trabalham o ano inteiro na roça, embrutecidas pela vida, mas que se permitem, nesta época, aflorar seus talentos como músicos, dançarinos, poetas. Tudo muito simples, mas de uma riqueza sem igual. Esta música fala disso, sobre como o trabalhador da roça, matuto, simples, embora rude consegue demonstrar leveza e sensibilidade ao sair na Folia de Reis. Meu pai sempre me falou destas folias, ele viveu isso em sua infância, em Santo Antônio de Pádua, cidade interiorana do Rio bem próxima à fronteira de Minas Gerais. Lá na cidade dele a Folia de Reis é muito tradicional. Então esta música é muito especial porque além de ser muito bela, uma das mais sensíveis e bonitas que já ouvi, também me faz lembrar muito de meu pai.

Eu sempre tive vontade de conhecer uma tradicional Folia de Reis. Tentei isso no período do Natal de 2009 em viagem para a terra de meu pai e não foi possível. Mas agora, em Janeiro de 2011, em viagem para lá novamente finalmente consegui. E foi uma experiência única. E minha filha estava junto comigo.

Quando vamos para a terra do meu pai ficamos hospedados na casa de uma família que ele conhece há anos, desde a infância. Eles moram lá no meio da roça, um lugarejo em meio a estradas de terra, muito mato, vegetação intensa. Lá tem gado, animais diversos, carro de boi, ordenha de madrugada, galinhas pelo pátio, porcos atravessando o caminho à frente do carro, fruta no pé, etc.

Esta família que nos acolhe é muito querida, pessoas simples e de poucas posses materiais. Eles ficam muito felizes com nossa presença, contam os dias aguardando com ansiedade nossa visita anual. Desta vez foi uma ocasião ainda mais especial para todos pois estávamos lá no dia do aniversário de minha filha, comemoramos todos juntos. Eles ficaram muito felizes em passarmos esta data especial com eles. Isso foi há alguns dias.

Neste dia, no aniversário dela, Dia de Reis, aconteceu um fato interessante. Estávamos eu e meu pai juntos ao chefe da família, o Sr. Antonio, também chamado de Toinho, tomando café bem cedo aguardando minha filha acordar para darmos os parabéns a ela. O Sr. Antonio é um amigo de longa data do meu pai, tem 64 anos de idade, e tal como diz a música, é uma pessoa da roça, matuta. Acorda todos os dias lá pelas 4 da manhã para tirar leite das vacas, passar o arado, etc. Pessoa da terra, rústica, de exterior endurecido, pelo trabalho braçal, pelas dificuldades do dia a dia, pela vida.

Quando minha filha acordou e se aproximou de nós durante nosso café, o Sr. Antonio, muito educado, pediu permissão para dar um abraço nela. Deu um abraço apertado. Ao se separar dela reparei que o Sr. Antonio estava com os olhos vermelhos, rasos d’água. Chorava, um tanto envergonhado pela emoção imprevista, impossível de conter e esconder. Todos olhamos para ele que, sem jeito, enquanto limpava algumas lágrimas, soltou uma única palavra: “Emocionei”.

Pois é, no Dia de Reis, no aniversário de minha filha, ao abraçá-la, o Sr. Antonio teve sua folia particular. Seu exterior sofrido, endurecido, não conseguiu evitar externar a sensibilidade.

Mais um presente que minha filha ganhou em seu aniversário. A emoção do matuto. Aquarela. Uma rosa amarela.





domingo, 2 de janeiro de 2011

Recomeço


Foto: Waldir Marinho

O passado, não o esqueça, aproveite-o.
Comemore cada momento importante, vitorioso, vivido.
Seja grato por estas vitórias.
Quanto aos momentos menores, de sofrimento, é difícil mas tente agradecer também. Por fazerem parte de sua história. Estes o fizeram crescer.
O passado o trouxe até aqui, fez de você o que é hoje.
Use o presente para curtir com maestria, com vibração, com sabedoria, aquilo em que as experiências passadas o tornaram, um ser humano melhor.
Um novo dia, um novo ano, uma nova oportunidade.
Recomeços sempre são momentos de reflexão, para pensar no que passou.
Para reavaliar.
Para mudar sua vida, para melhor, sempre.
O sol nasce novamente.
Uma nova chance.
Um novo começo.
Externe o que lhe vem ao peito.
Seja feliz.
Ame.
Viva.