sábado, 24 de dezembro de 2016

Se

Foto: Waldir C. Marinho

Se não consigo proferir as palavras mais dignas, ainda posso optar por me calar.
Se hoje nutro sentimentos infelizes, que eu ao menos guarde-os apenas para mim.
Se meus pensamentos continuam a me trair, tenho como tentar pensar algo diferente.
Se ainda assim ideias intrusas me surgem, que eu pense em minha família, em momentos de ternura, em um campo florido, que eu pense no amor.
Se não consigo conduzir corretamente meu olhar, posso elevar meu olhos ao céu.
Se mesmo assim tenho dificuldades, que eu feche os olhos e caia em oração.
Se não estou pronto para praticar a caridade e amparar a um irmão, ainda sou capaz de lhe oferecer um sorriso.
Se minhas palavras, pensamentos, sentimentos, atitudes, por ora não são aquelas que gostaria de ter, que eu ao menos busque fazer, sempre, o melhor possível.
Sim pois, se ainda sou falho, nada me impede de tentar acertar.
Em todos os momentos, Jesus espera por mim.




sábado, 5 de novembro de 2016

Adjetivos

Foto: Waldir C. Marinho
Bem, vou tentar. Nunca foi muito fácil para mim estabelecer um diálogo com você, cara, mas vejamos se consigo te passar algo da minha maneira de ver a vida. Estou com a nítida impressão que é perda de tempo, mas ainda assim tentarei.

Estou falando com você aí mesmo, isso, você. Você que tem mulher e filhos, mas não os respeita. Você cuja esposa te aguarda, em casa, todos os dias, enquanto você fica por aí, permanece na rua sabe-se lá em quais companhias. Companheiros fúteis, mulheres outras, volúveis, vazias. Sim, estou falando com você mesmo, safado.

Aliás safado nem é bem uma palavra adequada a você, não porque não a mereça, mas porque gostar de ser chamado por este tipo de palavra talvez faça parte de sua personalidade. 

Prefiro então te destinar outros adjetivos.

Você é um mau-caráter. Ah, você acha que tem caráter? Pois é, mas não tem. Trai a quem deveria valorizar, desrespeita a quem te respeita. 

Você é um irresponsável. Gasta dinheiro, tempo, energia, consome aquilo que você deveria dedicar à sua família com bebida, bares, saídas, más companhias.

Você é um perdedor, um derrotado. Um grande derrotado. Ah, acertei. Eu tinha certeza que ao saber esta minha opinião você iria pensar isso mesmo que acabou de pensar, então quer dizer que se considera um vencedor? Tá bom. Vencedor porque tem um bom emprego, porque tem dinheiro? Por que tem um carro bonito? Porque possui bens materiais? Mas continua sendo um derrotado. Derrotado como homem. Ah, você se acha homem? Muito macho? Pois é, mas não passa de um moleque. Ser homem não é isso o que você é. 

Vou dizer para você o que é ser homem, o que é ser macho de verdade. Ser homem é tratar as pessoas com cordialidade, com educação, com humildade, com ternura, ser homem é ser solidário, é agir no bem. Ser homem é ignorar tantos convites para fazer o que é errado e persistir fazendo o que é correto. Ser homem é ser honesto, sempre, até nas mínimas atitudes. Ser homem é resistir, bravamente, agindo com moralidade, independentemente dos inúmeros estímulos infelizes ao redor, mesmo que seja tachado pela turba como alguém diferente ou inferior. Ser homem, ser macho de verdade, é tratar sua esposa como mulher sim, como fêmea sim, mas também como amiga, como companheira, como ser humano. Ser homem é respeitar seus amigos, seus colegas de trabalho, seus filhos, sua família. Ser homem é fazer justamente o contrário do que você faz. Você não é macho, você é um covarde.

Você é um mentiroso. 
Você é um medíocre. 
Você é um otário.

Até aquele adjetivo que você tem mais medo que seja empregado a você, até esse você merece. Você acha que não, você tem tanta certeza que esta palavra não se aplica a você que até não está entendendo do que estou falando. Eu me refiro ao adjetivo com o qual você qualifica sua esposa tanto quando pode, quase todos os dias, contra a vontade dela, sempre que você sai com essas vadias que te acompanham. Isto mesmo! Sim, esta palavra também se aplica a você. Se ainda não se aplica, com esta sua conduta logo se aplicará. Como não? Meu caro, tenha certeza, a paciência um dia acaba. Pode ser que neste exato momento sua esposa já tenha feito o mesmo a você. Fica esperto. Como dizem, a fila anda, se é que já não andou. 

É isso mesmo, seu corno.





P.S.: Lamento pelas propositais, enfáticas, mas sinceras, palavras rudes. No texto me dirijo a um homem, até porque considero que este tipo de conduta infeliz descrita é mais comum entre os homens, mas infelizmente há mulheres que também agem de maneira semelhante. Se escrevo um texto como este é por acreditar que o ser humano colhe de acordo com aquilo que planta. Mas também acredito que nunca é tarde para mudar. Quero enfatizar: Nunca é tarde para mudar. É no que acredito. E não há melhor momento para iniciar esta mudança, de pensamento, de sentimentos, de conduta, de atitude, do que o presente instante, do que o exato agora.









sábado, 1 de outubro de 2016

Sons

Foto: Waldir C. Marinho
Clique, fez o semáforo, quando passei por ali em direção ao ponto. Tinha razão o autor de um texto que li quando criança, os semáforos realmente emitem um quase inaudível clique quando mudam de cor. Seria impossível essa percepção não fosse tão cedo, antes das seis da manhã, e a avenida vazia, silenciosa. Ou terá sido obra de minha imaginação sonolenta? Nem sei.

A vida desperta aos poucos, em meio ao breu. Enquanto caminho me alcançam os tons pastéis obnubilados pela escuridão, a miscelânea de odores, e principalmente os sons. O leve farfalhar das folhas de uma árvore na praça. Pequenos trinados. Um tilintar à distância. Meus passos. O vibrar do dia que inicia.

O som de algo vindo adiante, vejo um rapaz em uma bicicleta, deve ser aquele da mochila. De fato, sempre no mesmo horário. A rotina do homem se mostra junto aos sinais naturais, o céu, a brisa. Natura e urbe se mesclam, em recíproco flerte, em comunhão.

Paro no ponto, ainda sozinho. Mas não, noto um roçar mais acima, por entre os ramos da pequena árvore ensombreada logo ao lado. Meu companheiro de toda manhã, o bem-te-vi canta, uma vez, me desejando bom dia. Pra você também meu amiguinho. O passarinho sempre está ali mas, no escuro, apenas o percebo através dos sons. 

Ouço o longo e suave chiado rotineiro, ah, então são seis horas. No outro lado da rua, lá na frente, o posto de combustível inicia as atividades, e o rapaz de sempre recolhe as correntes que cercam o ambiente, arrastando-as pelo chão.

Mais adiante a padaria, já acesa, distantes sons, alguém puxa uma mesa, um alegre assobio, consigo ver a funcionária que, enquanto prepara o salão para o expediente, entoa uma canção, anunciando o despertar de uma nova manhã.

Passos, vagarosos, certamente é aquele senhor. Ele mesmo, vejo-o chegar devagar. Deve ter mais de setenta, mas sempre está ali indo ao trabalho com sua pastinha surrada. "Bom dia", ele me abençoa ao passar por mim, eu respondo, sorrindo, esperando que à altura. Sinto simpatia. Sinto compaixão.

Som característico de um veículo que logo aparece após a curva. 
Vem chegando minha condução. 
Sigo em frente. 
Amém.



domingo, 4 de setembro de 2016

20 mil




Minha escritora preferida, romancista seleta, aquela que escreveu o melhor livro que já tive a oportunidade de ler, a caríssima Isabel Allende certa vez passou por um período de, digamos, entressafra literária. Não conseguia escrever. Só que ela não podia se dar ao luxo de nutrir este capricho por conta de compromissos assumidos, contratos, etc. Precisava entregar um livro em certo período de tempo. Então decidiu escrever um livro de receitas culinárias, foi sua maneira de dar tempo ao tempo mas ainda assim conseguir cumprir suas metas profissionais, já que a inspiração falhou.

Se ela passou por isso, porque não eu? Rs.

Parei mesmo, como nunca, por vários meses. O último texto data de maio, mas neste eu comentava justamente sobre este meu momento árido, e antes deste último texto fiquei por meses sem postar nada. Logo essa atividade que tanto me satisfaz, mas, nem sei, a fonte secou. Pareceu secar.

Em meu caso particular escrever trata-se de algo amador e pessoal, mas embora eu não tenha as demandas que Isabel Allende possui, de público, empresários, contratos... ainda assim tenho minhas próprias demandas. Neste quesito, em forte conta, principalmente as cobranças internas.

Certo dia desses, quando eu já recomeçava a pensar em tentar alguns novos escritos, entrei em meu blog e pude notar que nesse tempo em que deixei de escrever o blog já passou dos vinte mil acessos, e a fanpage do blog no Facebook está com mais de dois mil likes. Não acho pouco para um blog absolutamente pessoal, sem divulgação além de poucos posts nas redes sociais. Então, mesmo tratando-se de um blog dedicado a textos próprios e reflexivos, pouco atrativos talvez, ainda assim há algo construído, não apenas através dos textos, mas também através do público associado a estes que se formou neste periodo. 

E nestas idas e vindas já se vão mais de seis anos de blog.

Alguém terá se importado com esta minha recente ausência? Talvez não. Mas eu me importei, demais. Porque me faz bem escrever. Porque, quero acreditar, meus textos podem construir algo, podem promover, mesmo que de forma mínima, algo positivo. Será? Quero crer que sim, que meus escritos podem alcançar almas. Será isso que acabei de escrever algo pretensioso? Não pretendi soar assim. Só sei dizer que, se uma alma já foi alcançada, nesse tempo todo, já valeu a pena.

Então, com estas palavras em mente, retorno. Com minha visão da vida, minhas experiências, minhas reflexões. Tentarei um texto por mês, como já fiz em muitas ocasiões, mas se assim não conseguir em um mês ou outro, tudo bem. 

Nobre amigo, nobre amiga, continuarei a compartilhar com você minhas ideias, meu íntimo, esperando que possa contribuir de alguma maneira com sua vida. Muito obrigado, muito mesmo, por sua presença. Assim seja.


quinta-feira, 12 de maio de 2016

Nada


Saí de casa, amanhecia.
Primeiros raios da alvorada por sobre as casas ainda às escuras.
Vi pessoas caminhando, ao trabalho, sozinhas em seus mundos.
Crianças, já com uniformes do colégio, tão cedo.
Um senhor caído na calçada, dormindo, naquele momento devia estar em sua casa, não ali, no frio.
Respirei fundo, em silêncio, sem maiores reflexões.
Uma criança encontrou-me no olhar, enquanto seguia seu caminho, vestes simples, por breve instante a conexão.
Ou quase.
Poderia até me importar, me comover. 
Deveria.
Quase até consegui, nem sei.
Até tentei, por vezes, registrar, escrever alguma coisa, tirar de mim algum sentir, mas não.
Só a angústia que me entorpece a mente, me anula o peito, paralisa a alma.
Nada.





sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Um novo livro


Que maravilha ter um novo livro em mãos.
Garantia de aventuras, novos ares, novas histórias, surpresas.
A cada capítulo, a cada página, a cada palavra, novas oportunidades.
Renovação. Aprendizado. Aprimoração.
As páginas que ficaram pra trás, que fiquem para trás. 
Mas nada me impede de consultá-las vez em quando, uma forma de me preparar melhor para as páginas que virão.
Até para desfrutá-las melhor.
Um novo livro, um novo caminho para contar uma história diferente.
Na eterna busca de me auto melhorar, sempre.
Sem pressa, sem pressão, mas sempre.
Ah, que cheirinho de livro novo...