sexta-feira, 20 de julho de 2018

Um rato, um rato!


Foto: Waldir C. Marinho

O rato branco foi pintado de cinza, sei lá como, acho que foi o Wagner, ou o Geléia, só sei que ficou parecendo rato de esgoto mesmo. O professor foi avisado, Isnar, um cara gordão, enorme, daqueles professores sacanas. "A gente vai soltar o rato na sala". Hã? O professor sacana achou o máximo, deu o maior apoio. E assim foi. O que mais ficou marcado em mim, da cena, foi a onda. E o que o professor fez. Bem lá na frente sentavam-se, em maioria, meninas, da turma que sempre foi da manhã, e de repente se depararam com um rato correndo a seus pés em plena sala de aula.

Nossa turma do segundo grau foi considerada uma das melhores do GPI por dois anos seguidos. No terceiro ano, pré-vestibular, a direção do colégio decidiu juntar as duas melhores turmas, a nossa e uma outra, certamente pretendendo formar uma turma grande e forte, que talvez gerasse resultados importantes. Mas não deu certo. Bem, não totalmente. Fomos transferidos para o turno da manhã, em uma sala diferente, enorme, que vinha sendo utilizada nos anos anteriores pela tal outra turma ótima. Naturalmente aquela outra classe já estava habituada com o local, os alunos eram conhecidos pelos inspetores e funcionários do turno da manhã e até uma boa parte dos professores eram diferentes, novos para nós. No início do ano de 1986 ali chegamos, com fama de uma boa classe, mas acabamos nos tornando meio que párias em um lugar estranho, ocupando o fundo da sala. Nós éramos os intrusos que vieram da tarde. Tratava-se, para nós, de um terreno desconhecido. As tais duas ótimas turmas não se integraram; a nossa, que já vinha de dois anos seguidos junta, continuou em grande parte unida, mas lá no fundão. Foram praticamente duas classes diferentes em uma mesma sala. Não sei quanto aos outros colegas, mas eu achava aquela turma da frente, fora algumas exceções pontuais, um bando de bestinhas que se achavam os tais e nos ignorava. Bem, esta era a minha visão aos 15 ou 16 anos de idade. E, sei lá porque, parece que aquela situação despertou os "piores" instintos daqueles alunos, dos alunos da nossa turma, pois o fundo da sala virou uma baderna geral. Eu disse piores instintos? Baderna geral? Mas foi divertido demais! Alguns professores até acompanharam a bagunça. Só para se ter ideia havia roda de samba durante algumas aulas, com instrumentos e tudo. Pois é.

E então o Wagner, acho que foi ele, aquele maluco, soltou o rato lá na frente, no meio da turminha chata. Soltou o rato e começou a gritar "um rato, um rato!". E veio a onda. O que mais lembro foi esta onda humana, aquela turma de bestinhas lá da frente, quase que em um mesmo movimento, como aquelas "olas" feitas pelas torcidas nos estádios, aquela turma toda foi levantando e pulando e correndo de um canto a outro da sala, fugindo do rato. Eu estava bem atrás onde o rato foi solto, a nossa turma sabia de tudo. A turminha chata da frente na maior confusão e nós atrás às risadas. O professor sacana, que também sabia, o gordão Isnar, para estimular mais a bagunça subiu em uma carteira escolar - imaginem a cena, o cara era dez vezes maior que uma carteira - e ficou de pé dando gritinhos agudos como se fosse uma menina medrosa e mimada, pura "zoação", enquanto a sala havia virado um pandemônio. Este cenário todo, inesquecível, foi uma das coisas mais engraçadas que já testemunhei em minha vida.

Depois deste ano começaram as vidas universitárias para muitos, o tal destino que ora nos mantinha juntos foi nos separando, cada um com suas realidades e trabalhos e atividades e caminhos díspares. Mas depois daquela época alguns daquele grupo continuaram a se encontrar e durante um bom tempo estas reuniões foram bem frequentes, chegamos até a viajar juntos. Ainda hoje há encontros periódicos, mais esporádicos, principalmente do pessoal que continua residindo na cidade do Rio de Janeiro.

Foi uma época única, saudosa época, da turma da chapeleta, no GPI Madureira. E aí já se vão mais de trinta anos.

Ana Cláudia, Ana Paula, Fábio, Geléia, Luca, Marcelo, Maristela, Mônica, Miúcha, Reinaldo, Sheila, Smiley, Tião, Wagner, são estes alguns nomes, em ordem alfabética, que marcaram minha história; e já peço perdão aos inúmeros outros que também poderia citar.

Acho que todos já passaram por situações inesquecíveis na infância, na fase escolar então isso é bem comum, e o interessante é que ao passarmos por tais momentos não nos damos conta, enquanto os vivemos, de o quão eternos estes momentos são. Escrevo estas linhas e, sinceramente, uma forte emotividade me atinge. Não sei nem ao certo definir o que sinto, e tentando entender, me compreender, posso citar que aqueles saudosos dias daquela classe ficaram marcados em todos aqueles que os viveram. Mesmo à distância, sentimo-nos, até hoje, grandes amigos. Mais que isso, irmãos mesmo.

Creio que este texto é isso, uma celebração à amizade, à irmandade. Uma celebração ao amor.