sábado, 9 de novembro de 2013

Eternidade

Foto: Waldir C. Marinho

Estava eu à entrada de um cliente lá na capital do Piauí. Tratava-se de hospital público, era início da manhã e o local estava repleto, um entra e sai de pessoas, em maioria humildes. Abordou-me um rapaz cabeludo, vestes simples, provavelmente um morador de rua, nem sei. Pediu minha atenção de forma cortês mas um tanto na defensiva, e o curioso é que ele começou a contar uma história tão longa e complicada que ele mesmo se perdia nos detalhes. Seu jeito de contar era um pouco engraçado. Em dado momento, talvez por conta de minha expressão e meu sorriso, ele resolveu mudar o tom: "Bem, resumindo, estou precisando de ajuda". Não tive como conter um sorriso ainda mais franco. Perguntei o que precisava, ele disse que estava com fome. Havia uma lanchonete próxima e eu falei para ele escolher um lanche. Entrou na lanchonete, um pouco receoso, me apontando aos funcionários como que me usando como garantia para não ser expulso, coitado. Escolheu dois salgados enormes, gordurosos, e me perguntou humilde se podia pegar um refrigerante. Eu respondi, sorrindo, claro que sim. Ele pegou uma Fanta Laranja de um litro, rs, isso às oito da manhã. Paguei a conta, saímos da lanchonete e conversamos mais um pouco. Ele ficou tão feliz, eu também, ficou me explicando o quanto era maltratado, ninguém o ajudava, etc. Em certo momento perguntou se eu era doutor, rs. No final da nossa conversa ocorreu o fato mais marcante, ele, olhando em meu rosto, calmo, sério, disse estas palavras: "Quem sabe no futuro eu também possa te ajudar". Ele tinha barba e cabelos longos, lembrou-me Jesus. Olhei em seus olhos brilhantes, refleti, e vagarosamente assenti, pensando na eternidade.