sábado, 22 de dezembro de 2018

Vivo

Foto: Waldir C. Marinho

Mais um dezembro. 
Especial época do ano.
Tenho procurado publicar aos dezembros, por conta do nascimento de Jesus, textos com temáticas que se aproximem, ou tentem se aproximar, do espírito pertinente à data. 
Mas agora, neste dezembro de 2018, eu creio, isto não ocorrerá.
Continuo, há quase dez anos, a postar por aqui meus escritos, ora mais inspirados, ora nem tanto. 
Creio que se eu parar isto me fará muito mal, principalmente por este motivo insisto em continuar. 
Mas me dá a impressão, nestes dias de vídeos e mensagens e comunicações dinâmicas, que as pessoas não têm mais paciência para ler nada. 
Em meio a recentes fechamentos de livrarias tradicionais esta minha sensação aumenta.
Imagina se alguém iria perder "preciosos segundos" lendo este texto, fadado a ser mais um grito na escuridão.
Mas que seja.
Muito embora eu não esteja lá muito inspirado.
Talvez tenham razão em não ler.
Sinto um variado misto de sensações conflitantes a respeito de minha escrita e de meu estado de espírito. 
Já escrevi melhor. 
Já me senti melhor. 
Não venho me percebendo tão próximo de Deus a ponto de me considerar apto. 
A ponto de me considerar digno.
Não me vejo, por agora, uma pessoa tão boa como anteriormente me via.
Distâncias, egoísmos, indiferenças.
Falhas.
Pois é.
Assim sigo.


O texto poderia parar por aqui, mas foi quando fui alcançado.
Pela canção.
Independentemente de minhas propensas falhas e distâncias, aparentes egoísmos e possíveis indiferenças. 
Não desistam de mim.
Não desisto de mim.
Talvez não tenha me tornado alguém assim tão complicado.
Foi o que me trouxe a linda canção.
E profundamente me comoveu.
Lea Michele - Deus - veio me recordar.
As lágrimas que caem parecem confirmar.
O amor 
está vivo 
em mim.



domingo, 25 de novembro de 2018

A rosa



Soltaram uma bomba tão grande que, se ela estourasse lá em Monte Alegre, alcançaria a gente aqui na Boa Vista! - Foi o relato contundente e definitivo do menino, diante da incredulidade da audiência. Todos crianças.

Pouca gente, principalmente de fora do estado, se dá conta que no Rio de Janeiro há região rural, roça, gado, estradas de barro, isso tudo. E eu mesmo, da capital, certamente somente pude vivenciar tais coisas por conta de meu pai ter nascido em um local como o que cito, no caso o município de Santo Antônio de Pádua, interior do Rio. Tive a grata satisfação de passar muitos momentos de minha vida, principalmente quando eu era bem pequeno, nesta região, onde meu pai viveu sua infância. Ele sempre teve o hábito de viajar para sua terra natal ao menos uma vez por ano, íamos todos, meu pai e minha mãe, eu e meus irmãos. Muitas alegrias e descobertas naquelas paragens. Será que alguém que ora me lê tem noção do que é ir dormir logo que escurece, sob a luz de um lampião? Lá eu conheci carro de boi e aprendi que ele produz um som inconfundível, quase um lamento. Pude pegar fruta no pé. Conversar junto à fogueira ao anoitecer, ouvindo 'causos' sobrenaturais que só estes dariam um texto à parte; aliás, em meio ao escuro por conta da energia elétrica ainda estar bem longe, lá eu descobri que na completa escuridão, após ouvir aquelas histórias, antes de dormir, fantasmas existem mesmo! Meu pai viveu naquela região até o início da fase adulta e, naturalmente, quando pequeno, seu universo pairava em torno principalmente daquilo que chegava a ele oralmente, através de histórias, da escola - e notem, naquele local eram comuns escolas montadas nas próprias residências, com professoras voluntárias - e os poucos livros que apareciam. Internet? Televisão? Imaginem, se nem energia elétrica havia. O muito que meu pai já me contou desta sua fase se mistura ao meu imaginário e às lembranças de meus próprios momentos vividos naquele local, e isto em mim é algo muito prazeiroso de se ter e sentir.

Boa Vista é um lugarejo próximo à sede do distrito de Monte Alegre, cerca de 2 km de ruas de barro separam um local do outro. Esta foi a referência de distância utilizada para exemplificar o "poder" da tal bomba que havia sido explodida bem longe dali, conforme relato ouvido pelo meu pai quando era bem pequeno, relato este que citei no início do texto e que certamente foi contado a ele na ocasião por alguma outra criança, um menino mais velho que ele, talvez. 

Quando a tal bomba estourou, essa que, segundo a visão da criança, se fosse explodida em Monte Alegre alcançaria a eles ali, na Boa Vista, a dois quilômetros de distância; quando isso ocorreu meu pai tinha 10 anos de idade. 

Era o ano de 1945 e o nosso mundo passava por dias bem turbulentos e tristes.




terça-feira, 25 de setembro de 2018

Sob a névoa

Foto: Waldir C. Marinho


NÃO!
não
difusa, a ideia, se afasta
dor?
ou o que?
sumiu
ou escondi
o que quer que fosse
sob a névoa.



quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Resgate

Foto: Waldir C. Marinho

Batata doce na brasa. 
Penetrou-me as narinas, e a alma.
Caminhava rumo ao metrô, esquina da Paulista com a Pamplona, quando fui atingido.
Imediatamente os olhos marejados, o íntimo alcançado, o peito opresso.
Procuro no entorno, surpreso, um tanto atônito.
Em meio ao barulho, movimento, pessoas, volto à infância.
Deus tentando o resgate deste louco aqui, endurecido pelo dia a dia, pelo egoísmo, pelas distâncias, pelas rupturas, pela falta de amor. 
Por tantas outras coisas, provocadas, permitidas, por mim mesmo.
Os carros passam.
Os olhos ardem. 
Lágrimas.
Talvez tenha sido a fumaça.
Sim, da fogueira.



sexta-feira, 20 de julho de 2018

Um rato, um rato!


Foto: Waldir C. Marinho

O rato branco foi pintado de cinza, sei lá como, acho que foi o Wagner, ou o Geléia, só sei que ficou parecendo rato de esgoto mesmo. O professor foi avisado, Isnar, um cara gordão, enorme, daqueles professores sacanas. "A gente vai soltar o rato na sala". Hã? O professor sacana achou o máximo, deu o maior apoio. E assim foi. O que mais ficou marcado em mim, da cena, foi a onda. E o que o professor fez. Bem lá na frente sentavam-se, em maioria, meninas, da turma que sempre foi da manhã, e de repente se depararam com um rato correndo a seus pés em plena sala de aula.

Nossa turma do segundo grau foi considerada uma das melhores do GPI por dois anos seguidos. No terceiro ano, pré-vestibular, a direção do colégio decidiu juntar as duas melhores turmas, a nossa e uma outra, certamente pretendendo formar uma turma grande e forte, que talvez gerasse resultados importantes. Mas não deu certo. Bem, não totalmente. Fomos transferidos para o turno da manhã, em uma sala diferente, enorme, que vinha sendo utilizada nos anos anteriores pela tal outra turma ótima. Naturalmente aquela outra classe já estava habituada com o local, os alunos eram conhecidos pelos inspetores e funcionários do turno da manhã e até uma boa parte dos professores eram diferentes, novos para nós. No início do ano de 1986 ali chegamos, com fama de uma boa classe, mas acabamos nos tornando meio que párias em um lugar estranho, ocupando o fundo da sala. Nós éramos os intrusos que vieram da tarde. Tratava-se, para nós, de um terreno desconhecido. As tais duas ótimas turmas não se integraram; a nossa, que já vinha de dois anos seguidos junta, continuou em grande parte unida, mas lá no fundão. Foram praticamente duas classes diferentes em uma mesma sala. Não sei quanto aos outros colegas, mas eu achava aquela turma da frente, fora algumas exceções pontuais, um bando de bestinhas que se achavam os tais e nos ignorava. Bem, esta era a minha visão aos 15 ou 16 anos de idade. E, sei lá porque, parece que aquela situação despertou os "piores" instintos daqueles alunos, dos alunos da nossa turma, pois o fundo da sala virou uma baderna geral. Eu disse piores instintos? Baderna geral? Mas foi divertido demais! Alguns professores até acompanharam a bagunça. Só para se ter ideia havia roda de samba durante algumas aulas, com instrumentos e tudo. Pois é.

E então o Wagner, acho que foi ele, aquele maluco, soltou o rato lá na frente, no meio da turminha chata. Soltou o rato e começou a gritar "um rato, um rato!". E veio a onda. O que mais lembro foi esta onda humana, aquela turma de bestinhas lá da frente, quase que em um mesmo movimento, como aquelas "olas" feitas pelas torcidas nos estádios, aquela turma toda foi levantando e pulando e correndo de um canto a outro da sala, fugindo do rato. Eu estava bem atrás onde o rato foi solto, a nossa turma sabia de tudo. A turminha chata da frente na maior confusão e nós atrás às risadas. O professor sacana, que também sabia, o gordão Isnar, para estimular mais a bagunça subiu em uma carteira escolar - imaginem a cena, o cara era dez vezes maior que uma carteira - e ficou de pé dando gritinhos agudos como se fosse uma menina medrosa e mimada, pura "zoação", enquanto a sala havia virado um pandemônio. Este cenário todo, inesquecível, foi uma das coisas mais engraçadas que já testemunhei em minha vida.

Depois deste ano começaram as vidas universitárias para muitos, o tal destino que ora nos mantinha juntos foi nos separando, cada um com suas realidades e trabalhos e atividades e caminhos díspares. Mas depois daquela época alguns daquele grupo continuaram a se encontrar e durante um bom tempo estas reuniões foram bem frequentes, chegamos até a viajar juntos. Ainda hoje há encontros periódicos, mais esporádicos, principalmente do pessoal que continua residindo na cidade do Rio de Janeiro.

Foi uma época única, saudosa época, da turma da chapeleta, no GPI Madureira. E aí já se vão mais de trinta anos.

Ana Cláudia, Ana Paula, Fábio, Geléia, Luca, Marcelo, Maristela, Mônica, Miúcha, Reinaldo, Sheila, Smiley, Tião, Wagner, são estes alguns nomes, em ordem alfabética, que marcaram minha história; e já peço perdão aos inúmeros outros que também poderia citar.

Acho que todos já passaram por situações inesquecíveis na infância, na fase escolar então isso é bem comum, e o interessante é que ao passarmos por tais momentos não nos damos conta, enquanto os vivemos, de o quão eternos estes momentos são. Escrevo estas linhas e, sinceramente, uma forte emotividade me atinge. Não sei nem ao certo definir o que sinto, e tentando entender, me compreender, posso citar que aqueles saudosos dias daquela classe ficaram marcados em todos aqueles que os viveram. Mesmo à distância, sentimo-nos, até hoje, grandes amigos. Mais que isso, irmãos mesmo.

Creio que este texto é isso, uma celebração à amizade, à irmandade. Uma celebração ao amor.




terça-feira, 5 de junho de 2018

Sem comentários


"Eu tenho algo a dizer..." 
- Racionais MCs, em Voz ativa.

Um grito no vazio, poderia ser este o título. Há quase dez anos escrevo, tenho este hábito, que me faz muito bem. Muitas linhas aqui neste espaço desde 2010. Sinal de que, como os Racionais, eu tenho algo a dizer. Rs. A questão aqui é... alguém me escuta? Melhor seria, sou lido? O número de visitas, a meu ver significativo, pode até indicar que sim. Mas, pela ausência de manifestações destes tantos visitantes, nota-se ser um coletivo, digamos, silencioso.
No início deste blog eram bem comuns os comentários nos textos, diferentes posts de leitores a cada publicação, principalmente de amigos, familiares, com opiniões, elogios, me incentivavam a escrever e tal, e no decorrer do tempo até surgiram comentários de pessoas que não conhecia pessoalmente. Mas, hoje em dia, infelizmente, sem comentários. 
Para quem escreve não há nada melhor que receber um retorno. Sabe-se lá o motivo, talvez por perceber-se ouvido, compreendido. Aceito, quem sabe. Acompanhado. Querido. Receber este tipo de feedback, no meu caso, incentiva-me muito a continuar escrevendo. Como não tenho me sentido muito inspirado ultimamente, seria perfeito. 
O último comentário que tive a honra de receber em um texto aqui no blog, salvo engano, data de 2016. Pois é.
Caro irmão e cara irmã, eu peço, se me deu a honra de ler algum texto, e aí eu já agradeço, e se gostou, ou mesmo se não gostou, por favor, poste um comentário. 
Talvez, na data de hoje, meu aniversário, alguém me traga este presente. Será? 
Seja bem vindo! Abraço!



quinta-feira, 31 de maio de 2018

Quase grito

Foto: Waldir C. Marinho

em dias como o de hoje
em que a inspiração não vem
pergunto o que me mantém
a insistir nestes escritos
expondo o que acredito
mesmo que nada bonito
como agora eu quase grito
eu que já fui mais amor
mais ardor, tesão, paixão
o senão, qual que será?
que me impede derramar
como outrora aqui meu eu
o meu ser e meu estar?
que se deu? quem saberá?
a vontade que se esvai
é distância de meu Pai?
pode ser o fim talvez
mas mesmo assim desta vez
aquilo que se desfez
ora intenta retornar
não do jeito que queria
algo finda de alegria
tampouco a antiga magia
mas o peito ainda urge
pois afinal eis que surge
nesta tarde amarga e fria
em meio a vãos pensamentos
tantos descontentamentos
esta simples poesia




segunda-feira, 30 de abril de 2018

Percalços


Foto: Waldir C. Marinho

Percalços, que ocorram. 
Sabes bem deles, já os conhece. 
Fizeram parte, até aqui, e outros virão. 
Valorizaram mais a caminhada. 
Mas a tal caminhada foi fundamentada por valores. 
Desistir destes, isso sim é que é difícil. 
Seria como desistir de si mesmo.




sábado, 3 de março de 2018

Toque


Foto: Waldir C. Marinho
Era bem cedo, aqueles momentos do nascer do dia, mágicos, em meio a quase silêncios, em que a névoa irradia os primeiros raios e a natureza a dialogar conosco com suavidade, delicadeza, sussurros. Colinas verdejantes aos poucos desnudadas pela luz nascente. O ar fresco a me acarinhar através da janela do meu carro, sons, imagens, sentires. Ouvia um CD do grupo Boca Livre, lindo, e lá no meio de tudo uma canção me surpreendeu. Bastaram os primeiros acordes. Só de escrever agora e a emoção ressurge. Se a sanfona chora eu canto, canto de coração... Ah, naquele dia, naqueles momentos, como chorei. De lá do interior de São Paulo, na estrada rumo à Sorocaba, em um frio início de manhã, as notas arrebataram-me, transportaram-me, a meu pai.

Em alguns momentos em nossas vidas sentimentos nos brotam sem que saibamos bem o motivo. Emoções que parecem irromper no peito sem muitas explicações. Trazidas à tona por estímulos, nem sempre imediatamente identificáveis. Por palavras, quem sabe por odores, sabores, sons... Elementos que parecem nos remeter talvez a nosso passado, a instantes de ternura impregnados em nós, que se conectam a nossa essência de uma forma inexplicável, mas drástica, a ponto de trazer uma emoção, uma lágrima, ou várias, à superfície. Isso acontece comigo normalmente ouvindo música. Basta um trecho, por vezes algumas notas. Não é frequente, mas marcante.

Fico imaginando, para estas pessoas, que conseguem provocar este tipo de sensação, como já provocaram comigo, que benção. Artistas, escritores, músicos, poetas. Arautos da divindade.

Escrevo. Coisas simples, mas sinceras. Quem sabe minhas palavras possam, um dia, fazer este bem a alguém, trazer esta conexão. Despertar emoções como as que já tive. Alcançar a sensibilidade de outrem. Que seja uma única vez. Promover este suave, toque, n'alma. Talvez seja pretensão. Prefiro chamar de esperança.






domingo, 4 de fevereiro de 2018

Cilada

Foto: Waldir C. Marinho
Um mês se passou e quando me dei conta nada publiquei no blog. Não que isso tenha tanta relevância pelo tempo decorrido, afinal já fiquei em outras ocasiões sem postar por bem mais tempo, mas é que nesta situação de agora eu já estava com um texto pronto, escrito há um tempão, e simplesmente deixei passar. Mas ok, publicarei mês que vem.
O motivo deste "deixar passar" é que eu quero aqui enfatizar.
Uma absurda instabilidade interna, desequilíbrio, até espiritual talvez, um mal estar impossibilitando tranquilidade até para tomar um café em paz mesmo nos finais de semana. Quadro motivado por um dia a dia profissional conturbado. Noutro dia comentei com um amigo, brincando - Se eu infartar um dia destes já sabes o motivo. Brincadeiras à parte...
Alguém merece isso? Eis a reflexão. Porque chegamos a este estado de coisas? Sei que não é exclusividade minha.
Cobranças, ok. Metas, correto. Prazos todos temos. Mas ter que lidar com desrespeito, dissimulação, ironia, sarcasmo, desonestidade? Valores tortos presentes em muitas empresas motivados sei lá porque. Pessoas que atropelam outras sem medir o dano. 
Onde a camaradagem, a solidariedade? 
Cadê a compreensão, a amizade? 
Por onde estará o espírito de equipe na busca conjunta de objetivos comuns?
Ah, por favor. O ser humano precisa sair desta cilada. Desta busca perene pelo "bem estar" próprio em detrimento do outro. Sei que acaba sendo algo motivado por este dia a dia competitivo, o ambiente corporativo insano, desemprego desenfreado, falta de perspectiva, falta de dinheiro, contas que vencem. 
Rolo compressor. Trator passando por cima de todos.
Sei não, precisamos de um basta. 
Estamos enlouquecendo.