domingo, 20 de dezembro de 2015

Um anjo


Eu caminhava em direção à padaria, domingo bem cedo, absorto, distraído. Próximo à entrada, na calçada, vi um rapaz dormindo. Daqueles moradores de rua que ficam pelas esquinas, que dormem por aí, debaixo das marquises, ao tempo, ao frio. Tive pena dele. Decidi comprar alguma coisa para o rapaz, café, pão, e trazer para ele comer naquela manhã, coitado. Fui na padaria, comprei o que precisava comprar, e ao começar a caminhada de volta, na mesma calçada, vi novamente o rapaz, ainda dormindo. Só neste momento lembrei do compromisso interno, que assumi e não cumpri, pois quando fui na padaria não comprei nada para ele. Envergonhei-me por meu esquecimento egoísta. Mas ao chegar mais perto do rapaz vi que, em cima da sua coberta, havia um embrulho, algo que não estava quando passei por ali minutos atrás. O pacote continha um sanduíche e um copo de suco, fresquinhos, em uma bandejinha de isopor, envoltos em plástico transparente, cuidadosamente preparados e embalados. Quando ele acordasse já teria seu café da manhã. Olhei para um lado, olhei para o outro, não vi mais ninguém. Silenciosa quietude preenchia o ambiente. Árvores à brisa da manhã, trinados de passarinhos ao longe, sons do céu. Abri um sorriso. Que bom que, antes de mim, alguém lembrou do rapaz. Que bom que, antes de mim, por ali passou um anjo.