segunda-feira, 11 de agosto de 2014

YES!


Domingo, bem cedo, avisto-o ao longe, junto à calçada três quadras adiante.
Eu em meu carro, ele à pé, ambos devagar, sem pressa.
Ninguém mais na rua, somente nós dois.
Ainda não o vejo em detalhes pela distância que nos separa, mas tento adivinhar, pelo horário, pelas circunstâncias, pelas vestimentas.
Um senhor de pele escura, vestindo um terno azul, camisa branca.
Tomara seja mais um.
Tomara.
Duas quadras agora nos separam.
Posso notar, ele traz uma sacola na mão direita, dessas de supermercado. 
Na mão esquerda carrega alguma outra coisa.
Passadas fortes, atravessa outra rua.
Acho que é mesmo, será? 
Espero que sim.
Uma quadra apenas.
Aproximo-me mais, agora posso ver melhor.
Tenho certeza.
YES!
Faço o gesto característico e tudo, rs.
Eu sabia! 
Mais um!
O senhor passa na calçada a meu lado, terno surrado, vestes simples, chego a ver as rugas em seu rosto. 
Uns sessenta e poucos anos, acredito.
Expressão resoluta, dignidade no olhar.
Na mão direita a sacola que já havia percebido, com alimentos talvez.
Na mão esquerda, junto ao peito, um livro, grosso, capa dura.
Uma Bíblia.
O senhor certamente dirige-se à sua igreja, para a celebração matinal. 
Pelo horário, bem cedo, quem sabe até seja um trabalhador da igreja, para os preparativos iniciais deste domingo de Deus. 
Sinto grande simpatia pelo distinto senhor, que passa a meu lado.
Neste momento ele poderia estar fazendo outra coisa.
Quantas milhares de outras pessoas, neste mesmo instante, podem estar, por exemplo, voltando de noitadas, praticando atividades menos edificantes.
Quantos talvez estejam nos bares, ou em suas próprias casas, chafurdando suas consciências no álcool, no vício.
Mas aquele senhor faz diferente.
Prossegue, firme, em direção à sua igreja.
Mergulhado em seus pensamentos, em seu mundinho particular. 
Em seu grandioso mundinho.
Só Deus sabe de suas lutas, de suas dificuldades, de seus sofrimentos.
De seus erros, sim, mas de seus inúmeros acertos.
Só Deus sabe das tentações que já conseguiu suportar.
Independentemente dos estímulos, vários, a seu redor, ele permanece, no rumo, na luta, em meio ao caos.
Continua, segue, em direção ao seu objetivo.
Remando contra a maré.
Mas faz a sua parte.
Firme.
Vejo-o passar, em admiração.
Em agradecimento.
Mais um.
Mais um guerreiro da luz.




P.S. Para ficar bem claro, pra mim não importa a crença. No caso que citei no texto era certamente um senhor evangélico, mas poderia ser católico, judeu, espírita. Poderia até mesmo ser alguém que se considera ateu. No meu entender o que importa é a a atitude, de agir com caráter, de respeitar a família, de ser um bom exemplo, de prosseguir no bem. De resistir a tantos convites contrários e, em meio à treva, ser um foco de luz.