sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sorria


Ela tinha um sorriso lindo. Jovem, aparentava no máximo uns 18 anos. Muito simpática, em meio a sorrisos atendia a um rapaz na minha frente. Eu era o próximo na fila, aguardando para pagar meu café em uma loja de conveniência. Eles conversaram um pouco, papo animado. O rapaz foi embora, chegou minha vez. Quando ela começou a me atender fez uma expressão séria, parou de sorrir. Eu olhei para ela tentando entender o motivo, e aí resolvi pedir para mim também aquele seu sorriso. "Mas porque você parou de sorrir na minha vez? Sorria para mim também". Ela estranhou um pouco, mas logo respondeu, "É que achei que o senhor estava bravo, fez uma cara tão séria...". Pois é, nem sei quais preocupações passavam pela minha cabeça, mas o fato é que com minha expressão sisuda apaguei o sorriso da menina. Eu que reivindicava a simpatia para mim não oferecia o mesmo em troca. Claro que depois desta observação dela eu acabei ficando com a expressão mais leve e comecei a sorrir. E aí sim pude merecer receber em troca, enfim, o lindo sorriso da menina. Sorria!


domingo, 10 de abril de 2011

Tem que estar perto


Foto: Mario Marinho


“...eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos ! A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure...” 

O texto acima, atribuído a Vinícius de Moraes, é muito comum na internet. Tentei uma confirmação da autoria, não consegui, e descobri que este trecho é parte de um texto maior, com um contexto mais amplo, que vocês podem encontrar em http://viniciusdemoraes.multiply.com/journal/item/2/Amigos

Não sei ao certo se o trecho acima é ou não do Vinícius, mas independente disso permitam-me discordar dele. Pessoas queridas que “basta saber que existem”? Ah, por favor.

Vinícius de Moraes faleceu com sessenta e poucos anos, sentiu-se mal no banheiro de sua casa e morreu algum tempo depois. Vai saber o que se passou em seu íntimo naqueles instantes, vendo a morte se aproximar. Talvez uma imensa saudade de um monte de gente que ele amava demais mas que há tempos não via. Quem sabe quantas pessoas queridas
 ele gostaria de encontrar naqueles últimos momentos, para estar junto delas, poder tocá-las mais uma vez, caso ele tivesse mais tempo... Senti pena do Vinícius ao imaginar isso.

Há uma certa troca de energia, algo assim, quando estamos perto de pessoas que gostamos. Quando estou com meus pais, meus irmãos, amigos, quando estou com pessoas que eu gosto é muito bom. É ótimo ficar perto de quem eu gosto.

Quando encontro minha filha sinto-me muito bem, bem demais. Nos momentos em que estou com ela parece acontecer em mim algum tipo de... cura. Aliás ela está longe, viajando, não vejo a hora dela chegar.

Na minha opinião não basta gostar, tem que estar perto. Preciso disso. Não precisa nem falar nada, é só estar perto.

Não vejo a hora de estar pertinho de minha linda. Muitas saudades dela.

Bem, paro por aqui, tenho que sair para encontrar a turma. Para jogar conversa fora, passar bons momentos, comer alguma coisa, e, claro, rir bastante. Rsrs. Pessoal, guarda um pedaço de pizza aí pra mim! Fui!






segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um passarinho


Foto: Waldir C. Marinho

Um passarinho na sacada de meu apartamento, de madrugada, acordei lá pelas duas da manhã e o encontrei. Chovia. 
Ele estava na beirada da varanda, voltado para fora, de costas para mim. Estava bem na beiradinha, próximo ao precipício, no sétimo andar.
Não sei bem se ele estava doente, se estava dormindo, ou só se abrigando da chuva. Creio que ele estava com frio. Fiquei com vontade de ajudá-lo, mas pensei, será que ele precisava mesmo de ajuda?
Fiquei com esta dúvida, se ajudava o passarinho ou não.
Tive receio de, ao tentar ajudar o pássaro, na verdade o prejudicar. Sim porque, na posição em que estava, com a minha aproximação o passarinho poderia se assustar e tentar voar para fora. E se estivesse doente talvez não conseguisse voar direito, ainda mais no meio daquela chuva toda. Imaginem, do sétimo andar.
Há momentos em que isso acontece, fico na dúvida se ajudo ou não, se vai ser ou não melhor ajudar. Tentando ajudar posso atrapalhar, quem sabe seja melhor para o suposto necessitado agir por si próprio, e pela própria atitude vencer. Mas claro que nestes casos há sempre a chance de errar por omissão. 

Na dúvida não fiz nada, deixei o passarinho com ele mesmo. Sim, tive certo receio do erro, mas ainda assim nada fiz. O passarinho parecia estar estável e resolvi aguardar até o dia raiar. Com o dia claro, se eu percebesse que ele estava realmente com problemas, aí tentaria alguma coisa. Tudo seria mais fácil com a claridade do dia. Voltei a dormir então.
Só que pela manhã, quando acordei, o passarinho não estava mais na varanda.
Teria ele alçado vôo? Teria vencido ou não? Será que foi realmente melhor eu ter deixado por sua própria conta resolver a situação? Ou foi diferente?

Ao imaginá-lo em necessidade, terei eu errado em não ajudar?
Estou sem esta resposta até hoje. 

Acho que é melhor ajudar quando temos vontade, e enquanto temos a chance, não ficar pensando muito. Ir lá ajudar a quem precisa e pronto.
Espero que ele seja um destes passarinhos que agora mesmo vejo, brincando de voar, em meio a este lindo céu azul.