segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um passarinho


Foto: Waldir C. Marinho

Um passarinho na sacada de meu apartamento, de madrugada, acordei lá pelas duas da manhã e o encontrei. Chovia. 
Ele estava na beirada da varanda, voltado para fora, de costas para mim. Estava bem na beiradinha, próximo ao precipício, no sétimo andar.
Não sei bem se ele estava doente, se estava dormindo, ou só se abrigando da chuva. Creio que ele estava com frio. Fiquei com vontade de ajudá-lo, mas pensei, será que ele precisava mesmo de ajuda?
Fiquei com esta dúvida, se ajudava o passarinho ou não.
Tive receio de, ao tentar ajudar o pássaro, na verdade o prejudicar. Sim porque, na posição em que estava, com a minha aproximação o passarinho poderia se assustar e tentar voar para fora. E se estivesse doente talvez não conseguisse voar direito, ainda mais no meio daquela chuva toda. Imaginem, do sétimo andar.
Há momentos em que isso acontece, fico na dúvida se ajudo ou não, se vai ser ou não melhor ajudar. Tentando ajudar posso atrapalhar, quem sabe seja melhor para o suposto necessitado agir por si próprio, e pela própria atitude vencer. Mas claro que nestes casos há sempre a chance de errar por omissão. 

Na dúvida não fiz nada, deixei o passarinho com ele mesmo. Sim, tive certo receio do erro, mas ainda assim nada fiz. O passarinho parecia estar estável e resolvi aguardar até o dia raiar. Com o dia claro, se eu percebesse que ele estava realmente com problemas, aí tentaria alguma coisa. Tudo seria mais fácil com a claridade do dia. Voltei a dormir então.
Só que pela manhã, quando acordei, o passarinho não estava mais na varanda.
Teria ele alçado vôo? Teria vencido ou não? Será que foi realmente melhor eu ter deixado por sua própria conta resolver a situação? Ou foi diferente?

Ao imaginá-lo em necessidade, terei eu errado em não ajudar?
Estou sem esta resposta até hoje. 

Acho que é melhor ajudar quando temos vontade, e enquanto temos a chance, não ficar pensando muito. Ir lá ajudar a quem precisa e pronto.
Espero que ele seja um destes passarinhos que agora mesmo vejo, brincando de voar, em meio a este lindo céu azul.



4 comentários:

Smiley Castelo Branco disse...

Adorei a história do passarinho, ainda vou tentar escrever algo com essa tua história, amigos são pra essas coisas, afinal de contas você mesmo disse que queria ajudar alguém, pô sou teu amigo, pô deixa eu fazer um pequeno plágio dessa ideia. Não sei pra quê tanto pô se você nem me negou! Abraço!

Anônimo disse...

O enfoque da Natureza é um traço marcante em seus textos e esse,talvez até um pouco bucólico,é de uma delicadeza ímpar. O sentimento de carinho é flagrante e a bondade se expressa de uma forma profunda e a garra pela vida se mantém. Parabéns!
Maria Lucia

Marco disse...

gostei bastante, eu acredito que existem momentos em que devemos ajudar e momentos em que devemos deixar as pessoas se resolverem sozinhas, apesar de parecer um pouco indiferente, mas nessas horas você pode torcer e pedir a Deus a favor do mesmo

Arthur . disse...

Todos nós , que buscamos fazer a coisa certa , constantemente vivenciamos este conflito interior...Creio que nestes momentos devemos nos perguntar o seguinte:"O que Jesus faria"?