sábado, 15 de outubro de 2011

A meus mestres


Meus queridos.
Vera, Jorge, Célio, Roberto, Artêmia, Rinaldo, Afonso, Edilberto, tantos outros, no jardim de infância, colégio, faculdade, pós graduação, alguns dos quais nem lembro os nomes mas guardo imagens, ensinamentos, broncas, exemplos, sentimentos. Pessoas importantíssimas, fundamentais.
Tia Adi, inesquecível, se aqui escrevo é graças a você.
Muitos outros.
Meus professores de vida, principalmente meus pais, meus irmãos, familiares, amigos.
Tantas pessoas queridas, lindas, algumas já se foram, que me ensinaram, me ensinam, demais. A tentar ser mais cordial, mais generoso, mais ativo, mais forte, mais compreensivo. A ter mais paciência, a ser mais humano, mais irmão. A ser solidário, mais amigo. A buscar dominar meus medos, superar minhas deficiências, aprender com minhas falhas. A procurar errar menos. A acreditar mais em mim. A sentir mais gratidão. Ter mais religiosidade, mais fé. A perdoar. A continuar, mesmo diante de amarguras, a acreditar, no carinho, no compromisso, na fidelidade, na dedicação, na paixão. Na vida.
Minha filha linda, que me ensinou, de fato, o que é o amor.
Jesus, o maior de todos.
A todos meus grandes mestres, lamento pelos momentos em que demonstrei não ter aprendido direito, e agradeço por suas presenças marcantes em minha vida, por insistirem comigo, pelo tanto que fizeram por mim, e espero em Deus conseguir, em retorno a tantos ensinamentos, tantos exemplos, tanta doação, ser alguém merecedor.



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ele retornou




Passei a mão em seus cabelos, olhei para seu rosto. 
Seus olhos, com o passar do tempo, tornaram-se azuis. Assim me pareceu, um azul celestial, como a antecipar a aproximação do presente momento.
Beijei sua fronte, três vezes, e lhe sorri. Ele piscou uma vez e me dirigiu o olhar. Esta não foi a última vez que o vi, mas creio ter sido o último momento em que ele me percebeu, ali, em sua frente.
Por instantes, admirei seus olhos.
Tanta experiência, tanta sabedoria, naquele olhar.
Deus, em sua infinita generosidade, permitiu que ele estivesse entre nós por tantos anos.
Mas chegou a hora, e o anjinho retornou, para seu lugar.



segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Periferia


Foto: Mario Marinho


Regiões de pobreza, inúmeras, imensas, circundam ou entremeiam as grandes cidades. Miséria, favelas, tráfico de drogas, violência e outros tantos fatores associados fazem parte da realidade dos moradores desses locais. O que sabemos sobre estas pessoas, suas vidas, seu dia a dia? Creio que muito pouco. Dependendo do local em que se mora, onde se trabalha e se vive o dia a dia, é possível uma parcela da população não ter muito contato direto com as periferias. Isso ocorre em São Paulo, por exemplo, uma cidade com a característica de ter estas áreas de pobreza em maioria distantes da região central. Mas mesmo que não nos aproximemos destes locais com frequência sabemos que eles existem, pela mídia, pela internet, ou outros meios. Sendo assim, qual será o motivo do nosso desconhecimento acerca do que ocorre nestas regiões mais pobres? Será por não frequentarmos esses lugares, ou na verdade preferimos ignorar estas pessoas?

Bem, acho que esta resposta é algo próprio de cada um. Nós que vivemos em grandes centros e fazemos parte de uma classe com certo nível sócio-econômico, desfrutamos de realidades bem diferente de milhões de moradores de regiões periféricas e parece que não nos importamos muito com as vidas deles. Acredito que isso pode soar estranho ou injusto, mas tentando responder por mim assumo que, embora eu até demonstre me importar em uma ocasião ou outra, como através deste texto, reconheço que em geral eu vivo sem exercer qualquer ação efetiva para auxiliar estas pessoas e até sem pensar muito nelas. Desconheço muito do que de fato ocorre na periferia e pouco contribuo, sendo assim é como se eu a ignorasse, ao menos em grande parte do tempo. Essa é a minha resposta, sincera, cada um tem a sua.

Vivendo no centro, levamos nossas vidas sem nos importar muito com estas pessoas, ou sem fazer muita coisa por elas, quase como se a periferia não existisse. Estou usando a palavra "periferia" como sinônimo, ou símbolo, de algo que pouco conhecemos, sendo a miséria, o crime, a violência, parte disto. Uma difícil realidade que, por vezes, nos alcança. Tantos problemas, tamanho desequilíbrio, acaba por extravasar, romper os limites do gueto, talvez seja inevitável que isso aconteça. E é nestes momentos que a periferia chega ao centro, chega até nós.

Continuamos a ignorar a periferia até que esta, de repente, nos aparece.

Por exemplo, quando num semáforo uma criança maltrapilha nos pede esmola. Seria mais simples olhar para a frente e, enfatizando nosso descaso, aumentar o som do carro, evitando a consciência daquela pessoa ali ao lado, mas isso não é possível. Sim, pois sentimos pena, ou medo. Ali somos obrigados a entrar em contato direto com a periferia, que por vezes até bate no vidro do carro para chamar nossa atenção. Podemos continuar com a janela fechada até a luz verde acender, mas não adianta pois já está feito, fomos alcançados, incomodados, invadidos em nossa zona de segurança. Percebemos que temos muito mais condições de vida que aquela pessoa ali ao lado, que não tem quase nada, e isso nos envergonha. A alguns de nós, ao menos, envergonha. Mas o máximo que fazemos é dar uns trocados, torcendo para que este contato seja breve, e aí depois arrancamos com o carro para o mais rápido possível esquecermos novamente a periferia. Até que ela nos alcance novamente, no próximo semáforo, numa das esquinas da vida.

Caro irmão, cara irmã, está cada vez mais difícil ignorar a periferia, não é mesmo? Você já foi assaltado? Já lhe apontaram uma arma, um revólver? Espero que não. A mim já apontaram mais de uma vez.

E qual é a solução? Quem sou eu para afirmar algo a este respeito. Ações sociais, investimento em educação, cultura, esporte, lazer, inclusão, combate à criminalidade, maior distribuição de renda, redução das desigualdades sociais, entendo que tudo isso faz parte da solução e já vem sendo feito. Mas certamente é preciso mais, muito mais.

É preciso ajudar, sim, e acho que este auxílio, que não me parece simples de efetuar, deve ser feito através de uma real compreensão da periferia, esta precisa ser ouvida e sinceramente entendida. Ser aceita, abraçada. Ao arrancarmos com o carro no semáforo estamos caminhando na direção oposta, fingindo não ver o problema até a próxima vez em que a periferia transbordar novamente, o que pode acontecer logo ali adiante. Seres humanos, pessoas iguais a nós, que estão sofrendo, passando necessidades, precisam ser amparados, não podemos continuar a lembrar da periferia apenas quando esta nos alcança em situações que nos são incômodas, essa é uma atitude egoísta que só mantém o problema, em prejuízo de todos.

Fico imaginando, e se ampliarmos o contexto, considerando o mundo inteiro, qual seria a periferia do mundo? Existe isso, a periferia do mundo? E qual seria o centro? Bem, existem países imersos em grande pobreza, desequilíbrio social, guerras, conflitos internos, contrastando com outros países da mais absoluta riqueza e prosperidade, certamente há vários representantes dos dois lados. Se pudéssemos eleger uma capital mundial esta seria representada, acredito, pelos Estados Unidos da América.

Na minha opinião o dia 11 de setembro de 2001 foi um momento marcante em que a periferia do mundo extravasou, rompeu os limites periféricos, e alcançou o centro. Não há nada mais simbólico que o mais rico país do mundo ser quase que paralisado por um ato terrorista que apagou as luzes de uma das suas principais capitais. Mesmo com todo o seu poder econômico, político, bélico, a principal nação do planeta não conseguiu evitar ser alcançada pela periferia mundial. E a suposta solução que se seguiu, pálida, ineficaz, egoísta, a meu ver está longe de ser uma real solução: guerras, mais violência, a morte de Bin Laden, que já foi substituído por um outro que futuramente também assim o será.

Todos nós, das capitais do mundo, estamos tomando medidas para ajudar, aceitar, abraçar, compreender a periferia mundial?

Ou apenas estamos arrancando com o carro, rumo ao próximo semáforo?




Comentários adicionais:

Quem quiser conhecer mais da realidade nas regiões periféricas brasileiras, o crime e todos os fatores associados, indico os livros:
     - Falcão, meninos do tráfico (Mv Bill e Celso Athayde)
     - Cabeça de porco (Luiz Eduardo Soares, Mv Bill e Celso Athayde)
     - Abusado (Caco Barcelos)
     - Estação Carandiru (Drauzio Varela) 
     - Elite da Tropa 1 (Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel)
     - Elite da Tropa 2 (Luiz Eduardo Soares, Cláudio Ferraz, André Batista e Rodrigo Pimentel)

Para quem tem interesse em saber mais sobre a vida nos países árabes, muçulmanos, cultura, religião, conflitos, detalhes sobre o fundamentalismo islâmico e outras questões, indico os livros abaixo:
    - O vulto das torres (Lawrence Wright)
    - O livreiro de Cabul (Asne Seierstad)
    - 101 dias em Bagdá (Asne Seierstad)
    - O caçador de pipas (Khaled Hosseini)
    - A cidade do sol (Khaled Hosseini)
    - Filho do Hamas (Mosab Hassan Yousef, com Ron Brackin)


*Entendo que este texto foi influenciado pelos livros citados acima.