terça-feira, 21 de março de 2017

Que livro será este?


Foto: Waldir C. Marinho
Hoje meu dia foi especialmente povoado por meus companheiros de... se assim posso dizer... mesma ideologia. 
Logo que entrei no metrô encontrei um senhor à minha frente, compenetrado, lendo seu livro.
Em meu trajeto ao trabalho é comum ver pessoas aproveitando o tempo em que utilizam a condução desse jeito, desfrutando de literatura. 
Percorri o vagão com os olhos, vi outras pessoas lendo, uma, duas, três... ah, nossa, sete! 
Sete pessoas com seus livros em mãos em um mesmo vagão!
Um recorde!
Eu os entendo, perfeitamente.
Quis tirar o meu livro da pasta e ser o oitavo naquele vagão, mas não foi possível pela posição em que eu estava, de pé e com as mãos ocupadas.
Poxa.
Só fiquei ali, observando-os.
Invejando-os, rs.
Após sair do trem, quando iniciei a subida pela longa escada rolante, notei alguém lendo logo à minha frente.
Dei aquela olhadinha tímida tentando ver a capa.
Que livro será este? 
Eu sou assim, não consigo ver alguém lendo sem ficar louco de curiosidade em saber qual é o livro. 
Tentei mais uma vez ver o título, já no finzinho da subida. 
Não consegui.
Ao sair da estação passou à minha frente uma adolescente caminhando enquanto lia. 
Uau, isso é que é gostar de ler!
Será que eu já fiz isso algum dia? 
Ah, sim, já fiz, reconheci encabulado.
Acho até que fiquei corado.
Cheguei à padaria ao lado do escritório, sentei, pedi meu café.
Ah, agora chegou minha vez!
Tinha apenas uns dez minutos, dez maravilhosos minutos.
Tirei meu livro da pasta.
Antes de começar, porém, vi que uma senhora estava sentada na mesa ao lado, lendo.
Mas ora veja, tantos de nós ainda no início da manhã?
Creio que nunca havia visto tantas pessoas com livros em mãos num mesmo dia.
Não é lindo isso?
Um dia bem prolífico, intelectualmente prolífico.
Novamente tentei mas não consegui ver o título do livro.
Pensei até em perguntar à senhora, mas decidi não interrompê-la.
Até porque nós preferimos não ser interrompidos.
Deixei ela lá com seu livro, e eu cá com o meu.
A sociedade costuma valorizar mais as pessoas que falam, que gostam de se expressar verbalmente, que tagarelam sem parar.
Mas nós somos diferentes, somos assim, calados.
Que bom.
Ah, leitores, esses companheiros silenciosos!
Abri meu livro.
Respirei fundo.
Viajei.