sábado, 30 de outubro de 2010

Um sopro de Rubem Alves

Para reflexão, trecho de uma crônica do livro "Do universo à jabuticaba", de Rubem Alves, editora Planeta.
Rubem Alves, segundo a "orelha" do livro citado, é pedagogo, poeta, cronista, contador de estórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros e psicanalista, além de ser um dos escritores mais famosos do Brasil, entre outras coisas.
Tenho uns 4 livros do Rubem, recomendo. Gosto muito de suas crônicas. Espero que gostem também.
Abraços, ótimo fim de semana.

Quando eu gosto eu digo
 - Rubem Alves -

Passava diariamente em frente à minha casa uma moça. Teria seus vinte anos. Ela tinha um defeito na sua perna, o que a fazia mancar. Da janela da minha casa, protegido pelas cortinas, eu a observava. Seu rosto era bonito. E me dava uma vontade imensa de atravessar a rua, ir até ela e lhe dizer: "Acho você muito bonita...". E, sem esperar resposta, voltar depressa para minha casa. Nunca o fiz, por medo. Medo de que ela não me entendesse. Fico a pensar: "Por que temos medo de dizer a uma pessoa que gostamos dela?". Minha mãe, imagino que ela gostasse de mim. Mas ela nunca me disse. Nem o meu pai. Teria sido tão bom se ela me abraçasse e dissesse: "Meu filho, como eu gosto de você!". Dirão que não é preciso. Discordo. É preciso. Escrevi uma carta para meu irmão mais velho que começava assim: "Meu querido irmão Ismael...". Ele me respondeu espantado: "É a primeira vez na minha vida que alguém me chama de querido". E ele já estava nos seus 75 anos de idade! Resolvi que não vou ficar atrás da cortina, espiando. Quando eu gosto, eu digo.



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Esperança


Quando eu tinha lá meus 15 anos li pela primeira vez “Fernão Capelo Gaivota”, um livro que marcou minha juventude. Do mesmo autor, Richard Bach, li outros livros. Um deles bem pequeno de nome “Longe é um lugar que não existe”.
Nesta história o personagem principal passava as poucas páginas do livro em uma jornada, encontrando diferentes personagens, situações, lugares, pelo caminho. Ao despedir-se de uma situação para continuar sua caminhada sempre acabava topando com um novo personagem, um novo lugar, uma nova situação. Simples assim era o livro, não lembro bem como era o final, mas permaneceu esta lembrança que conto agora para vocês.
O que mais ficou em mim deste livro, algo que agora a memória me traz, não foi exatamente o que o autor quis enfatizar. Vou tentar explicar.
A vida nos reserva muitas alegrias, mas nos prega também algumas peças. Acontecem-nos perdas. Sem nada planejarmos, sem nossa intenção, tristezas ocorrem, e por vezes nos sentimos totalmente despreparados para passar por estas situações.
Nesta caminhada encontramos pessoas, procuramos deixar marcas, influenciar de alguma forma as vidas destas pessoas. Gosto de acreditar que deixo impressões nestas almas que encontro em meu caminho. E algumas dessas pessoas são especiais, com as quais decidimos compartilhar mais, trocar mais, formar algo concreto, construir um lar, uma família, um consistente laço emocional.
Desejamos o bem, procuramos fazer o bem, esperamos o bem em troca.
Mas mesmo assim por vezes somos obrigados, pelos fatos da vida, a nos afastar de pessoas mesmo que não queiramos. E este afastamento pode ser traumático.
Foi o que aconteceu entre eu e minha ex esposa, em meu casamento, hoje findo. Minha realidade mudou de uma hora para outra e isso me deixou um tanto perdido.
Nos distanciamos, mais e mais, de situações, lugares, experiências, de um amor, que antes era importante, mas agora já não mais, passou, se foi, nos foi tirado, pelos revezes da vida.
E aí vem um período de mágoa, de perda, de desequilíbrio, de dor. De distância.
Mas depois de certo tempo, vivo isso agora, percebo e acabo por concordar com a idéia que me ficou do livro. Na verdade somente agora construí esta percepção daquela história que li há anos atrás.
A distância não acontece, nunca estamos realmente distantes, de uma forma relativa, porque... ao nos afastarmos de uma situação, anterior... nos aproximamos de outra, de uma nova. Nos afastamos, e nos aproximamos. Quanto mais distantes de uma realidade mais próximos estamos de uma nova.
Nossa visão parcial, imediatista, diante de um problema, muitas vezes nos dificulta acreditar na amplitude da alegria que o futuro nos reserva.
Em meu ver esta é uma mensagem de esperança.
É o que penso, em relação à mim, mesmo que eu ainda não consiga ver, adiante, o que está por vir.
Permitam-me este relato bem pessoal. Mas eu acredito que esta idéia pode se empregar em outros casos, em diferentes perdas. Estas que acontecem todos os dias com tantos.
Claro, há problemas muito complicados, muito difíceis de superar. Cada pessoa com sua própria realidade. Mas realmente acredito que esta mensagem se aplica de alguma maneira a todas as situações.
Lembro agora as palavras de uma música religiosa, muito bonita.
Diz esta música: “Deus tem o melhor para mim. O que perdido foi não se compara com o que há de vir.”
Acredito nessas palavras.
Perdas acontecem, faz parte da vida. Se vocês estão se sentindo tristes sei de algo que pode lhes ajudar, independente de quaisquer crenças que tenham.
Em momentos de tristeza procurem rezar, um “Pai Nosso” por exemplo ou alguma outra que conheçam. Ou ainda, se conseguirem, façam algo mais íntimo, em momentos de reflexão usem suas próprias palavras se dirigindo ao ‘alto’, e peçam tranqüilidade, calma, peçam a solução. De preferência façam isso sem alguém por perto, em um lugar silencioso e calmo. Peçam a Jesus, e terão auxílio.
Nunca estamos sozinhos. É no que acredito, muito embora eu ainda me sinta solitário ou triste em alguns momentos. Mas são transitórios estes momentos, e ultimamente cada vez menos freqüentes. Tenho feito o que lhes sugeri acima e afirmo que funciona. Ao menos comigo.
Estou buscando o equilíbrio, a serenidade, a paz. Creio que estou no caminho certo para conseguir isso.
Boa semana a todos.

domingo, 24 de outubro de 2010

Dica: Livro "Filho do Hamas"



Indico a vocês este livro, o último que li, sensacional.
"Filho do Hamas", de Mosab Hassan Yousef, com Ron Brackin. Editora Sextante.
Para quem quer entender melhor toda a complexidade do Oriente Médio.
Vocês sabem o que é "Faixa de Gaza"? E afinal o que significa "Cisjordânia"? Sabem com certeza o motivo pelo qual os Israelenses e os Palestinos sempre estão em conflito ?
Pois bem, tudo isto vocês encontrarão neste livro.
O livro foi escrito simplesmente pelo filho de um dos fundadores de uma das principais organizações terroristas daquela região, o Hamas.
Na capa está escrito "Um relato impressionante sobre terrorismo, traição, intrigas políticas e escolhas impensáveis". É exatamente isto, e é mais do que isto. O livro também é um relato de fé, de uma impressionante busca espiritual.
Muito bom. São 287 páginas. Custa em torno de 40 reais mas já vi a 30 reais na Nobel do Shopping Tijuca, RJ.
Abraços.

sábado, 23 de outubro de 2010

Dica: CD "Miles Cool & Collected"


Uma dica para os apreciadores de boa música.
Comprei este CD do Miles Davis e não consigo parar de ouvir. De tanto tocar o CD Player do meu carro já está quase tocando sozinho, quase "aprendeu de cor". Rs.
Miles Davis foi um dos mais importantes nomes do Jazz. Trompetista, compositor, norte-americano. Faleceu em 1991 aos 65 anos.
Este CD tem diversas faixas muito legais, todas instrumentais. São 13 no total.
Uma delas é a conhecidíssima "Summertime", um clássico, uma das faixas que eu mais gostei. Outra show de bola é "Bye Bye Blackbird". Há outras muitas. Todas de uma fase mais "cool" de Miles Davis.
Uma coisa legal deste CD são algumas gravações de músicas bem populares, "Time after time" que foi sucesso com Cyndi Lauper e "Human Nature" que ficou muito conhecida com Michael Jackson.
Uma das mais legais é a última do CD, "It´s about that time", ótimo balanço, um remix com o trompete sensacional de Davis e a guitarra de Carlos Santana.
Há participações de diversos músicos importantes do Jazz, os saxofonistas Julian "Cannoball" Adderley ( que eu adoro ) e John Coltrane, o pianista Herbie Hancock, outros.
Este CD é uma boa opção para quem quer conhecer um pouco mais de Jazz e de Miles Davis. Sejam apreciadores mais novos como eu, que ainda tenho que aprender muito, ou mesmo quem não tem muito contato com este tipo de música mas tem interesse em conhecer e desfrutar do talento de Miles. Diversão garantida.
Vale muito a pena comprar, até por conta do preço, paguei apenas R$ 12,90 na Saraiva do Shopping Pátio Paulista, São Paulo.
Abraços.


sábado, 9 de outubro de 2010

Esperando por nós



Segue abaixo um relato do que ocorreu em 2009 quando eu ainda morava no “Cafofo”. Quem me conhece pessoalmente nos últimos anos sabe que Cafofo era o apelido da minha ‘casa’ quando eu aluguei um quarto próximo à Av. do Cursino, em São Paulo. Fiquei morando neste quarto após o fim do meu casamento, e enquanto meu apartamento no Butantã, onde moro agora, não ficava pronto.

A Av. do Cursino é localizada em um local humilde em São Paulo capital. Pois bem, uma vez estava nesta região me dirigindo à Av. dos Bandeirantes, uma avenida importante, para chegar ao local de meu trabalho. Em dado momento o trânsito parou, é claro. Em São Paulo "trânsito parado" é pleonasmo. Rsrs. Estou exagerando, mas nem tanto, só um pouco. Fiquei ali, aguardando, ouvindo música no carro. É um lugar humilde, repito. Pessoas nas ruas, e me chamou a atenção uma menina adolescente e uma criança caminhando na calçada à minha esquerda. Eu passei por eles. Parei novamente por conta do trânsito. Eles passaram por mim. Foram adiante. Depois andei mais um pouco, parei novamente. Nesses momentos o menino tentava colocar um casaco de crochê. Casaco verde. Ele tentava enfiar um braço pela manga, com dificuldade. A mãe, ou irmã, à frente, voltava a cabeça pedindo para ele colocar o casaco. O menino de no máximo uns 6 anos. Homenzinho, fiquei orgulhoso dele, não sei explicar bem porque, caminhando ao lado da menina, um pouco atrás dela, com atitude já meio adulta. E tentava colocar o casaco de crochê. Chamou-me a atenção, naquele momento, as roupas humildes dos dois. Não conheço alguém que use casacos de crochê, a não ser pessoas mais idosas, parece algo mais adequado em uma senhora. Talvez tenha sido o presente da avó daquele menino. Senti-me meio incomodado pois acabara de comprar um casaco um tanto caro. Fiquei olhando aquele menino com o casaquinho de crochê verde. Pessoas humildes, simples como aquilo que possuem, mas felizes. E enquanto o menino do casaco de crochê foi em frente, virou a esquina, avançou, eu permaneci, no meu carro confortável com ar-condicionado, ouvindo meus CDs, parado no trânsito...

Esta cena ficou em minha mente desde aquela época, no início de 2009.

Por vezes dá certa vergonha de ter posses, ter roupas boas, ter um carro legal, pois outras pessoas não tem quase nada. Isso se passa no meu íntimo principalmente no trânsito quando aparecem pessoas pedindo dinheiro, vendendo coisas, etc. Normalmente 'esquecemos' que este tipo de coisa existe até que algumas dessas pessoas passam na nossa frente. Ao menos acontece comigo.

Mas não podemos ter roupas, carro, nossos bens ? Acredito que sim. O total desprovimento não é adequado a ninguém, claro, mas há certos exageros no sentido inverso. Há de haver um caminho, intermediário. Nem tanto, nem tão pouco.

Uma vez assisti a uma palestra no evento "Expo Management", não sei se conhecem, mas é um evento sobre Marketing e Gestão de empresas que acontece em São Paulo todo ano. Foi uma palestra do Prof. Carlos Alberto Júlio, organizador do evento. Não esqueço esta ocasião pois foi muito especial, o palestrante se emocionou, contou coisas incríveis de sua vida, etc. Quero enfatizar algo que ele falou na palestra, sobre estas pessoas menos favorecidas, socialmente, financeiramente, culturalmente. Ele chamou a todos os presentes naquele anfiteatro para a responsabilidade. Apontou para cada um e disse: "Nós todos, que temos educação, que temos cultura, que temos conhecimento, somos responsáveis por estas pessoas..."

Meus caros, estamos acima da média. Acima da média nacional, culturalmente falando, financeiramente falando também. Todos nós, com algumas exceções, que estamos agora mesmo desfrutando de um computador, da internet, lendo este texto em um blog, tendo interesse e compreensão para tal, todos nós estamos acima da média. Podemos ainda crescer muito, mas certamente fazemos parte de um grupo seleto. E PORTANTO TEMOS UMA RESPONSABILIDADE ENORME. Isso me assusta.

Um cara que estudou comigo na FAAP trabalha no Bradesco Prime, aquela divisão do Banco Bradesco voltada a clientes de maior poder aquisitivo. Uma vez ele fez uma apresentação sobre o Bradesco Prime na FAAP, enfatizando a questão da segmentação de mercado, público-alvo, etc. Pois bem, ele mostrou uma estatística de ganhos mensais por brasileiro economicamente ativo, e era incrível. Eu fiquei surpreso. O percentual da população que ganha acima de 1.500 reais por mês era algo em torno de, acreditem, 2%. Talvez eu esteja errando os valores, talvez seja mais ou menos que 1.500 reais, ou o percentual também seja diverso, mas não deve ser muito diferente do que eu citei acima.

Meus caros, em qual dos dois grupos vocês se encontram ? Esses números agridem. Pois é, quem está no menor grupo tem ou não tem responsabilidade, como disse o Prof. Carlos Alberto Júlio ?

Sim, precisamos curtir nossas vidas. Devemos. O fato é que o conforto, a beleza, os restaurantes, o shopping, tudo que está por aí e existe para ser curtido, está à nossa disposição, temos direito a isso, acho eu. Mas acredito, sem exageros. Hoje é muito mais fácil explicar à minha filha que ela não deve valorizar somente a marca pois isto não é garantia de qualidade, nem tudo o que é caro é bom. É mais fácil explicar porque ela já tem 11 anos e é bem esperta. No entanto ela tem uma mala da Kipling, eu comprei e fiquei muito contente em presenteá-la. Uma mala que não foi barata, quem conhece sabe. Eu fiquei feliz em dar a ela pois ela merece, muito, e ela ficou muito feliz em ganhar. Mesmo no meu caso, quando eu vou comprar tênis para mim eu escolho qual ? Nike. Certamente eu não tenho direito algum de reclamar se a Melissa tiver vontade de ter um tênis da Nike se eu mesmo gosto e uso.

Pois é, não é fácil, quando nós mesmos sofremos as mesmas influências, e não resistimos.

Mas acredito que o caminho intermediário é possível, existe, e é viável. Estou tentando explicar isso. Não sei se estou conseguindo.

Certa vez eu comprei um tênis da Nike de 150 reais. Outra vez comprei um de 200 reais. No caso da Nike são alguns dos mais baratos. Não eram os mais bonitos pois os mais bonitos são muito mais caros, é sempre assim, rsrs. Talvez um dia eu compre um de 300 reais, sei lá. Mas há aqueles de mais de 600 reais ou mais, sei lá quanto, esses eu não quero. Eu comprei o de 150 reais e disse isso à Mel, mostrei que optei pelo mais barato.

A gente fica tentando encontrar justificativa para nossa falhas, vícios, etc. Ok eu sei. É uma luta diária, mas ainda acho que dá para ter uma conduta, dentro desta confusão toda, de forma a ser mais moderado, não se deixando levar pelos exageros extremos.

É claro, não estou falando aqui de bens básicos, de saneamento, de higiene, saúde, etc. Sabemos que isso infelizmente faz falta a milhões de pessoas. Não esqueço quando da inauguração da creche em que meu irmão Sérgio trabalha como voluntário, num local muito carente no Rio de Janeiro. Algumas daquelas crianças não sabiam utilizar o vaso sanitário pois nunca tinham visto um vaso sanitário.

E aí, isso lhes assusta ? A mim assustou na ocasião.

Eu há muito pouco tempo, há uns 5 ou 6 anos, nem sabia o que era Jazz. Hoje eu amo. Dificilmente deixarei de escutar Jazz. Caminho sem volta, não acho que eu consiga um dia deixar de curtir isso ( também gosto de Bruno e Marrone e outros, rsrs. ). O que o Jazz seria para uma grande parte da população ? Nada. Assim como não era para mim antes. Aprendemos, criamos valores, adquirimos conhecimento, cultura, somos únicos, cada um na sua. Valorizo minhas roupas talvez da mesma forma que a menina que pedia para o menininho colocar o casaco de crochê, presente da avó, talvez mãe dela. Ou talvez não, pode ser que ela não queira bem aquilo, talvez um dia ela consiga um outro patamar e esteja buscando isso, espero que sim. Ou se este "outro patamar" não possui valor para ela às favas com o "suposto" outro patamar, suposto no sentido de ser algo melhor. Tudo é relativo. Meu pai até hoje não dá a mínima se usar uma camiseta rasgada, nem percebe. E minha mãe atrás dele com uma camiseta nova na mão "Troca esta que está rasgada"!!! Rsrsrsrs. Lembro de uma camiseta rasgada que meu pai gostava de usar de um bloco carnavalesco lá de Rio das Ostras ( município na Região dos Lagos, RJ ), camiseta com desenhos de um bloco chamado "Blocana". Rsrs.

Aliás tem uma história do meu pai que ilustra bem isso, diferenças sociais e valores. Ele comprou um apartamento na Barra da Tijuca, bairro bacana no Rio. Isso há uns 12 anos ou mais. Infelizmente ele teve que vender há alguns anos para se capitalizar. No condomínio dele moravam jogadores de futebol, era um lugar de certo luxo, à noite podia-se ver e escutar o mar. A visão do mar lá de cima era a coisa mais linda. E o meu pai, em meio a isso tudo, descia do apartamento com a vara de pescar no ombro, sua camiseta rasgada ( ou não, rsrs ), e ia à praia para pescar caminhando. E saibam que, na Barra da Tijuca tem uma lagoa, lagoa de Marapendi. Próximo ao prédio há uma ponte, na Av. Ayrton Senna, por sobre esta lagoa. Depois de tentar algumas vezes pescar na praia, sem muito sucesso, até pelo movimento grande de banhistas, meu pai resolveu passar a pescar na lagoa, e aí ia caminhando na direção oposta à da praia até esta ponte, com sua vara de pescar no ombro e sua camiseta rasgada ( desculpe aí, pai, mas acho essa história da camiseta rasgada o máximo ! rsrs ). Ele caminhava até a ponte, descia pelo "matinho" na lateral e pescava lá debaixo. Só que o interessante é que, ao fazer isso, descobriu que uma família morava debaixo daquela ponte, em plena Barra da Tijuca, zona nobre do Rio. Creio que as "forças opressoras" do estado nunca perceberam aquilo. Tratava-se de apenas duas famílias, dois casebres, um em cada margem, sob a mesma ponte. O pai da família que meu pai conheceu, da margem mais próxima ao apartamento, também era pescador. Então meu pai ficou amigo dele. Meu pai ia sempre lá para pescar e conversar com o cara. Eu cheguei a ir lá algumas vezes com ele. Sinto-me muito orgulhoso de meu pai com esta história.

Para concluir isso tudo, eu quero lembrar novamente da inesquecível palestra do "Prof. Júlio".

Somos responsáveis por estas pessoas, todos nós aqui, e ele apontou a todos, inclusive para mim, claro. Ele me apontou e me cobrou. Mostrou minha culpa, minha chance de fazer algo, me provou que eu tenho conhecimento intelectual, situação financeira, etc. para isso, me marcou pelo resto de minha vida com aquelas palavras.

O significado do que ele disse era também no âmbito profissional, da necessidade de ajuda profissional especializada. Ele disse que "estas instituições, creches, orfanatos, instituições de ensino para carentes" precisam de mão de obra, sim, de ajudantes, de força braçal, sim, mas também precisam principalmente de administradores, de profissionais de marketing, de publicitários, professores, etc.

O que eu estou tentando dizer desde o início é que temos direito sim de curtir o que nos é importante, comprar nossas roupas, ir a nossos cinemas, teatros, ler livros, poesia, tecnologia, usar nossos notebooks, tornar nossas almas mais felizes já que isso tudo nos traz felicidade.

Temos direito a isso tudo, sim.

Mas primeiro: Não podemos exagerar. Há exageros, importantes, por aí.

Eu tive um relógio Technos por vários anos. Era ótimo, não oxidava, era lindo, funcionou este tempo todo com apenas duas trocas de bateria. Não estou usando mais porque cansei dele e vou em breve comprar outro. Custa, hoje em dia, em torno de 250 reais. Vale o preço ? Sim, vale. Há mais baratos ? Certamente há, mas não confio. Quando eu for comprar outro, comprarei qual ? Comprarei um Technos, óbvio, ou marca similar, de igual qualidade.

Eu uso meias da Lupo. São caras ? Pode-se dizer que sim. Mas duram 5 anos ou mais, sem exagero. Aquelas que eu comprava em lojas mais populares, a 10 reais, ou menos, o pacote com 5 pares duravam quanto tempo? Sei lá, alguns meses.

Agora, existem relógios e meias mais caros que estes que citei ? Sim, MUITO MAIS CAROS. Eu acho o Shopping Iguatemi da Faria Lima ( São Paulo – SP ) um exemplo interessante disso. Acho engraçadas algumas daquelas vitrines. É um "templo ao luxo exagerado". Você vê lá gravatas que custam mil reais, chinelos que custam 800 reais, ou mais, bolsas que custam 4 mil reais. Sem falar nos relógios de 20 mil reais. Saio de lá achando minhas meias da LUPO, tênis NIKE, relógio TECHNOS, etc. tudo muito barato. Bem, nem tanto, mas reduz minha culpa e me faz mais pé no chão fazendo repensar meus próprios valores.

Mas, claro, aquilo que eu compro pode ser considerado um “luxo exagerado” também comparado ao que muitos outros possuem. Assim como os exemplos que citei do Shopping Iguatemi, que não possuem valor e parecem exagero para mim mas são importantes e habituais para outras pessoas. Cada um na sua, cada um sabe de si, continuo acreditando que o caminho intermediário é possível, e este caminho é próprio de cada um de nós. Cada pessoa tem o seu caminho.

Então o primeiro ponto é este: MODERAÇÃO. Podemos curtir sim, tudo isto, mas vamos "devagar com o andor". E nesse primeiro ponto quero incluir a responsabilidade que temos por nossa família, nossos entes queridos que dependem de nós e cuja formação cultural, valores, caráter, somos diretamente responsáveis. Filhos e quaisquer outras pessoas íntimas e familiares que estão à nossa volta. Pessoas que influenciamos.

E o segundo ponto ?

O segundo ponto, que não deve ser esquecido nunca, e que eu esqueço sempre, é o "CHAMADO DO PROF. JÚLIO".

SOMOS RESPONSÁVEIS POR ESTAS PESSOAS, QUE NÃO POSSUEM QUASE NADA. QUE POSSUEM MENOS QUE NÓS, NÃO APENAS MENOS BENS MATERIAIS, MENOS CULTURA, MENOS INFORMAÇÃO, MENOS SAÚDE, MENOS CONFORTO, MENOS TUDO !!!!

Então se queremos desfrutar daquilo que gostamos, se queremos estar em paz com Deus, com o alto, com nós mesmos, afinal Deus está em nós nos cobrando o tempo todo, então precisamos FAZER ALGO por estas pessoas.

E quanto mais consciência temos, mais responsáveis somos.

Estou GRITANDO ISSO PRINCIPALMENTE PARA MIM. Até porque quem sou eu para dizer a vocês alguma coisa sobre isso !?!?

Tenho certa cultura, tenho situação financeira razoável, nada demais mas algum conforto, tenho vontade de ser professor, tenho vontade de ajudar, e não faço nada. Não estou me livrando da responsabilidade, longe disso, estou lançando a idéia e imediatamente vestindo a carapuça. Aliás a carapuça coube perfeitamente, é do meu tamanho exato.

HÁ PESSOAS QUE ESTÃO ESPERANDO POR MIM. Por nós, meus caros. Caraca, sei disso há anos, há anos. E NÃO FAÇO NADA.

Me envergonho, de minha própria postura, ao ver alguém como meu irmão Sérgio, meu irmão de luz. Ele sim faz tanto por tanta gente. Ele não apenas é voluntário, ele se doa de forma muito intensa ao trabalho assistencial. E há pessoas que fazem piada dele, de sua entrega, mas ele não dá bola, quer ajudar, vai lá e ajuda, e pronto. E está sempre com um sorriso no rosto, com uma palavra de atenção, de carinho, de amor. Incansável, meu irmão. Tenho muito orgulho dele.

Termino por aqui. Abraços. Bom fim de semana a todos.



terça-feira, 5 de outubro de 2010

Meu momento inesquecível



Eu aguardava ansioso, preocupado, a cabeça a mil. Diversas coisas na mente enquanto esperava o nascimento de minha filha.
Torcida para tudo ficar bem.
Junto à porta do centro cirúrgico, próximo à entrada do berçário, meus pais ainda não haviam chegado, eu lamentando por eles não estarem presentes pois o nascimento estava próximo.
De repente chegam meus pais. No exato instante em que abre a porta do centro cirúrgico.
Se eu fosse resumir a minha vida a um único instante, seria este. A enfermeira e a Melissa no colo, linda. Meu momento inesquecível. Quando vi minha filha pela primeira vez.
Alegria, alívio por tudo estar bem, emoção intensa.
Ali nasceu algo em mim um tanto inexplicável. Intenso. Definitivo. Amor.
A enfermeira ficou por alguns instantes, depois entrou no berçário levando a Mel. E eu abracei minha mãe e desabei, chorando convulsivamente.



sexta-feira, 1 de outubro de 2010

E enfim, escrevo


Foto: Waldir C. Marinho


Porque escrevo ? Porque este blog ?
Na verdade escrevo há algum tempo. Só que não com a intenção de registrar, de deixar escrito para que diversas pessoas leiam. O que tenho escrito são e-mails principalmente, e alguns textos em redes sociais, ou seja, como todos fazem hoje em dia.
Só que algumas pessoas começaram a fazer comentários sobre o que eu escrevia, me incentivando a escrever mais. E eu fui aos poucos também percebendo que gosto de fazer isso, que gosto de escrever.
E então este blog é para isso. Para registrar textos, quaisquer textos. Deu vontade venho aqui e escrevo. Eu estava tentando fazer isso no Orkut, no Facebook, mas não são sites próprios para isso.
Um dos motivos para eu tentar, enfim, escrever, é que eu gosto muito de ler. Foram tantos livros nestes anos todos que fiquei com vontade de escrever também. E quem sabe fazer um pouco por outras pessoas aquilo que tantos escritores já fizeram por mim. Tomara que eu consiga.
O grande incentivo para decidir por escrever aqui foi receber algumas opiniões favoráveis, por algum motivo algumas pessoas - insanas, acredito, rs - gostaram de coisas que eu escrevi.
O Smiley foi um desses 'loucos', amigo de longa data, estudamos juntos no antigo segundo grau, nos anos 80, no Rio de Janeiro. Ele hoje mora no interior de São Paulo com sua família, sua esposa Andréia e duas filhas, uma família linda. Consegue conciliar as atividades aparentemente díspares de Cirurgião Plástico e Poeta. Costumo brincar dizendo que ele é de fato Poeta, mas também Cirurgião Plástico nas horas vagas. Rsrs. Pois bem, o Smiley viu alguns textos meus - nada demais, garanto - e ficou me enchendo a paciência, rs, para que eu escrevesse, dizendo que eu tenho jeito. Sua influência foi uma das principais pois ele mesmo é escritor, já publicou livro, e aí me deu diversas dicas, além de seus elogios e insistência. Opinião favorável de um escritor pesa muito, certo ?
Mais recentemente teve o Chris, fala Chrishhhhhh, de São Paulo, meu professor de violão. Ele é cantor e compositor e tem uma banda com sua namorada Luize, um casal legal pacas, os dois são estudantes na USP. O Chris também me incentivou, outro dia sugeriu compor alguma coisa junto comigo. Caraca, ia ser show de bola. Vou te cobrar isso, Chris! 

Outras inúmeras pessoas me incentivaram. O Sebastião, lá do Rio, amigo com o qual estudei junto com o Smiley, também me encorajou a escrever. Faaaallaaaaa Tiããão !! A Betty, de São Paulo, me incentivou também. 
Outra que me encorajou foi a Sandra, do Rio de Janeiro. A conheço há pouco. Ela viu algumas coisas que eu escrevi no Orkut e começou a me perturbar, rsrs, no bom sentido. Foi ela que teve a idéia do Blog. Eu gostei muito da idéia pois assim fica tudo mais fácil. Bem mais fácil que escrever um livro, rs.
Há outras pessoas. 

Algumas que me incentivaram diretamente pedindo para eu escrever, e também há pessoas que me incentivaram por me inspirar. Meus irmãos Sérgio e Mário, meu pai Waldir e minha mãe Vilma. A querida Janini. Todos do Rio. Pessoas muito especiais em minha vida. Há muitas outras.
Por último cito a mais importante, minha principal incentivadora e inspiradora. A Melissa, a minha Mel, minha filha linda, meu anjo de Deus. A Mel é a fonte não só de minhas letras, mas de meu viver.
Ela me incentiva muito, e outro dia me deu uma bronca. “Pai, você com 40 anos está enrolando tanto para começar a escrever que eu, com 11 anos, comecei antes”. Rsrsrs. Putz, valeu a bronca mesmo, sempre lembro disso. E ela escreve bem pacas. E gosta muito de ler, tal como eu.
Teve outra coisa que a Mel disse que foi engraçada. A Sandra, que eu citei acima como uma das incentivadoras e deu a idéia do Blog, certo dia a Sandra disse que seria “A maior seguidora de meu Blog”. Contei isso para a Melissa e ela discordou. A Mel reivindicou para si o título de "maior seguidora". Rsrs. Caraca, já tenho duas fãs! Rsrs. Pois é, Sandra, você vai ter que ser a segunda seguidora, a primeira seguidora será a Melissa, não há como competir. Rsrs.
Escrevo também porque é muito bom escrever. Caraca, é muito bom mesmo, muito divertido. Creio que é uma forma de desabafo também, sei lá, divã, terapia, o que seja. Escrever para mim é uma maneira muito legal de me sentir bem. Bem pacas.
E aí, por estes motivos, enfim escrevo. Bem, este aqui é o primeiro texto. Eis o blog, aos poucos vou melhorar o visual e incluir mais detalhes, e mais textos claro.
Pessoal, agradeço a todos, aos citados e não citados. Pela força, pelos incentivos, insistência, broncas, etc. Agradeço a todos pela participação ativa em minha vida, companheiros de viagem que somos.
Vou tentar, de coração, escrever alguma coisa que preste. Rsrs. Sem maiores pretensões, por diversão, por prazer.
Por favor, leiam !!! Rsrs.
Abraços a todos.

Waldir Carvalho Marinho.