segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Um passo pra trás


Foto: Waldir C. Marinho
Nem sei porque estou tão incomodado se estou sentado, desta vez consegui. Não encontro posição para apoiar a cabeça, queria tirar um cochilo. Dormi tão pouco nesta madruga. Muita gente de pé, o maior aperto. Um garoto com fones cantarola desafinado, me incomoda. Mas coitado, só com música mesmo pra ir levando. Duas adolescentes trocam palavras, reclamam dos seus trabalhos. Com esta crise, gente, melhor reclamar não. Está todo mundo sendo dispensado, ontem lá na firma foram mais dois. E quem continua, se entreolhando, calado. Se bem que falaram que tudo ia ficar bom, certo? E no Jornal Nacional os números da economia estavam melhores. Foi o que disseram. "Um passo pra trás por favor", diz o condutor. Rá, até parece. Cochichos, bufadas, reclamações. Um cabra enorme lá no meio empaca pior que jumento e não dá nem meio passo. Fica represando o pessoal apertado entre ele e a catraca. Ninguém tem coragem de falar com o cara, que continua parado. Talvez seja a forma dele de reagir ao sistema. Talvez esteja desempregado. Ou o seu patrão o oprima, normal. Ou quem sabe aquele tal presidente esteja mexendo nos seus direitos trabalhistas, consolidados há séculos, vai saber. Cada qual com seus problemas. E aí o cara responde assim à vida, não quer dar o passo pra trás. A maioria, mesmo incomodada, acaba cedendo. Mas tem gente que é igual a este cara, resiste. Ao menos tenta. Afinal quem gosta de dar passos pra trás, né? Se bem que às vezes é inevitável. E assim vamos seguindo no buzão superlotado. É nóis.