segunda-feira, 5 de junho de 2017

Para tudo!


Foto: Waldir C. Marinho
Vi o senhor caído na calçada, na hora do almoço, em frente ao banco ao qual me dirigia, em plena Av. Paulista.
Tive o ímpeto de largar tudo e ajudar.
Chega! 
Chega de omissão, de hipocrisia, chega!
Para tudo! 
Para tudo e ajuda! 
Agora é a hora!
Dizia estas palavras pra mim mesmo. Largar tudo, focar em ajudar o senhor que estava ali, jogado no chão. Este seria o gesto humano a fazer, eu não poderia mais ignorar aquele tipo de situação. Foi como se eu tivesse chegado a um momento de importante decisão em minha vida. Para tudo, ajuda este senhor, deixa o banco pra lá, deixa os afazeres pra lá, permanecia aquela voz interna a me interpelar, tentando me tirar da inação.
Estava indo ao banco pagar uma conta, uma conta que me garantiria alguma satisfação material qualquer, algum conforto qualquer, algo que perdeu totalmente a relevância diante daquele senhor caído na calçada, enquanto os transeuntes passavam indiferentes ao ponto de quase pisá-lo.
Fiquei na porta do banco por instantes em meio a estas reflexões.
De repente percebi que estava incomodando as pessoas que entravam e saíam, e aí despertei um pouco daquele transe louco. Entrei no banco para deixar de atrapalhar as pessoas, ao menos foi esta a covarde é frágil muleta moral que usei para sair daquela situação.
Ainda assim, lá de dentro, fiquei observando o senhor através da parede de vidro que separava o interior do banco da rua.
Naquele instante minha vontade de ajudar já não era tão firme.
Fiquei ali olhando o senhor, com compaixão, sim, mas com meu egoísmo paralisante.
O momento passou.
Fui pagar minha conta.
Saí do banco sem olhar para trás.
Lá ficou o senhor, caído.
E eu segui adiante.
Derrotado.